Ecumenismo e Versões Bíblicas: Aproximações e Contradições entre as Versões da Bíblia Nova Almeida Atualizada (NAA) e Algumas Versões Católicas Romanas (Parte 2)

Esta é a segunda postagem sobre o tema acima. Para entender melhor o assunto, sugiro a leitura da primeira postagem, conforme link abaixo:

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Trataremos aqui, sobre como o texto grego de O Novo Testamento Grego das Sociedades Bíblicas Unidas (texto crítico-ecumênico-alexandrino) e as versões bíblicas que o utilizam, tratam em suas notas de rodapé a passagem de Marcos 16.9-20, quanto a sua originalidade.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que já na apresentação de O Novo Testamento Grego – Quinta Edição Revisada (SBU/SBB), lemos:

“Os colchetes duplos dentro do texto indicam que as passagens ali incluídas, geralmente trechos mais extensos, reconhecidamente não fazem parte do texto original, mas foram acrescentados ao texto bíblico num dos primeiros estágios da tradição textual. Tais passagens estão no texto, ainda que entre colchetes duplos, devido à sua antiguidade e ao uso que tradicionalmente se tem feito delas na Igreja cristã.” (SBB, 2019, p. xvii)

Percebam a ênfase na afirmação: “reconhecidamente não fazem parte do texto original”. Não há rodeios e nem meias palavras nessa declaração. Esse é o pressuposto dos editores de O Novo Testamento Grego com base nos supostos “melhores manuscritos” gregos alexandrinos, onde essa obra se baseia. Entre esses textos colocados entre colchetes duplos está Marcos 16.9-20.

Agora, observemos o que foi escrito sobre Marcos 16.9-20 nas notas de rodapé de algumas bíblias de estudo, cujo o Novo Testamento é traduzido tendo como base O Novo Testamento Grego:

– Bíblia de Estudo Nova Almeida Atualizada – NAA (SBB, 2019, p. 1815): “[…] Este final longo está ausente em vários manuscritos gregos antigos e confiáveis (esp. Sinaítico e Vaticano), bem como em numerosos e antigos manuscritos latinos, siríacos, armênios e georgianos. […] Muitos pensam que isto prova que os vs. 9-20 são uma adição posterior. Em resumo, os vs. 9-20 devem ser lidos com cautela”.

Em suas páginas de apresentação, a NAA afirma que: “Diversos textos no Novo Testamento aparecem entre colchetes. Trata-se de material que se encontra no aparato crítico das edições mais recentes do texto grego, não sendo, portanto, considerado parte do original. Esse material foi mantido no texto da tradução, ainda que entre colchetes, para que o leitor não estranhasse a falta de alguns versículos, pensando inclusive que poderia ter havido uma falha na impressão.” (Peculiaridades da Nova Almeida Atualizada, ponto 20, p. VII)

A passagem de Marcos 16.9-20 se enquadra na nota de apresentação acima, visto que se encontra entre colchetes na NAA, ou seja, segundo os seus editores: “não sendo, portanto, considerado parte do original”.

O que a nota de rodapé não diz, é que um número muito maior de manuscritos gregos bizantinos (90-95% dos manuscritos gregos) atestam a originalidade de Marcos 16.9-20.

– A Bíblia de Jerusalém (Paulus, 1995, p. 1924): “O trecho final de Mc (vv. 9-20) faz parte das Escrituras inspiradas; é tido como canônico. Isso não significa necessariamente que tenha sido escrito por Mc. De fato, põe-se em dúvida que esse trecho pertença à redação do segundo evangelho. […] Muitos mss, entre eles o do Vaticano e o Sinaítico, omitem o final atual”.

Aqui começa a confusão entre os eruditos que defendem o texto crítico de O Novo Testamento Grego. A Bíblia de Jerusalém sugere que Marcos não escreveu a passagem, mas ao mesmo tempo não nega a sua originalidade (inspiração e canonicidade), diferente da NAA e de O Novo Testamento Grego (de onde parte a sua tradução), que negam a sua autoria e originalidade.

– Bíblia Sagrada Scribere – Tradução Oficial da CNBB (CNBB, 2023, p. 1501): “Complemento canônico de Mc (falta nos mss. mais antigos)”.

Se os vs. 9-20 do Evangelho de Marcos é “complemento canônico”, é porque em teoria não faziam parte do texto original.

Como sempre a erudição pró texto crítico-ecumênico-alexandrino alega, os vs. 9-20 não estão presentes nos manuscritos mais antigos (principalmente os Códices Sinaítico e Vaticano), mas esses manuscritos são de fatos “os melhores”? Parte da erudição, bem fundamentada, afirma que não.

– Bíblia do Peregrino (Paulus, 2017, p. 2105): “A conclusão original do evangelho de Marcos é surpreendentemente desconcertante, a ponto de os escritores posteriores terem acrescentado um epílogo, respaldado como canônico pela autoridade da Igreja.”

Atente para o fato de que a nota de rodapé considera como original o final no v. 8, alegando ainda que o restante dos versículos (9-20) foram acrescentados por “escritores posteriores”, e mesmo assim a “autoridade da Igreja” (Católica Romana) considerou o suposto “acréscimo” como canônico (inspirado). Pois é, a confusão continua entre os defensores de O Novo Testamento Grego (texto crítico e ecumênico).

– A Bíblia Paulinas (Paulinas, 2015, p. 147): “O final longo ou canônico do Evangelho segundo Marcos está presente na grande maioria dos manuscritos antigos, embora falte em alguns, dentre os mais importantes. […] Isso mostra que este final foi composto por outro autor e acrescentado ao Evangelho, talvez na segunda metade do século II. […] Tais observações, no entanto, nada comprometem sua canonicidade, sendo reconhecidos com Sagrada Escritura por todas as igrejas cristãs.”

Prestem, por favor, bastante atenção. Em primeiro lugar, essa nota de rodapé diz que os vs. 9-20 foram compostos por “outro autor” e acrescentados ao Evangelho, provavelmente na “metade do século II”. Sendo assim, esse final canônico não deveria estar presente nos Códices Sinaítico e Vaticano (considerados os melhores manuscritos), visto que datam do século IV?

Em segundo lugar, seguindo a lógica das demais versões católicas romanas, como reconhecer como canônico e inspirado um texto que não foi escrito pelo próprio autor do Evangelho? Trata-se de algum tipo de “inspiração compartilhada ou complementar” entre autores diferentes?

Em terceiro lugar, quem está com a razão entre a erudição pró texto crítico-ecumênico-alexandrino, os editores de O Novo Testamento Grego e da NAA, que afirmam que Marcos não foi o autor desses versículos e que o texto não deve ser considerado assim parte do original (não-Escritura, não-canônico e não-inspirado), ou os editores e comentaristas das Bíblias católicas romanas aqui listadas, que afirmam que Marcos não foi o autor, mas mesmo assim o texto deve ser considerado Escritura Sagrada, canônico e inspirado?

Enquanto os eruditos pró texto crítico-ecumênico-alexandrino se resolvem, fiquemos com o texto grego bizantino (cerca de 90-95% dos manuscritos gregos antigos), representado pelo Textus Receptus e Texto Majoritário, base principal das traduções do Novo Testamento das Bíblias Almeida Revista e Corrigida (ARC), Almeida Corrigida Fiel (ACF) e King James 1611 (BKJ), que considera Marcos o autor dos vs. 9-20, e esses versículos como originais.

Pr. Altair Germano

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