As informações sobre quem foi Clemente são diversas. Há quem afirme que ele era membro da família imperial flaviana. Outros afirmam que teria sido um escravo da família Flávia, que, ao ser liberto, se converteu e se pôs a serviço da Igreja. Clemente é ainda identificado como o colaborador de Paulo citado em Filipenses 4.3, opinião sustentada por Orígenes e Eusébio de Cesareia.[1] Clemente é tido como um dos possíveis escritores da epístola aos Hebreus.[2] As contribuições de Clemente para uma doutrina do Espírito Santo são advindas, principalmente, da carta escrita por ele aos coríntios, datada de aproximadamente 95 d.C, tendo como objetivo apaziguar alguns conflitos que envolviam uma revolta contra os presbíteros da igreja.[3]

Na primeira citação que Clemente faz do Espírito Santo, ele destaca o abundante derramar do Espírito sobre toda a comunidade cristã em Corinto, associado a uma conduta exemplar dos cristãos:

Vós éreis todos humildes e sem vanglória, procurando mais obedecer do que mandar, mais felizes em dar do que em receber. Vós vos contentáveis com as provisões de viagem fornecidas por Cristo, guardáveis zelosamente as palavras dele no fundo de vossas entranhas, e os sofri- mentos dele estavam diante dos vossos olhos. Dessa forma, uma paz profunda e radiante fora dada a todos, junto com o desejo insaciável de praticar o bem, e se espalhara sobre todos abundante efusão do Espírito Santo.[4]

Percebe-se que por ocasião da carta de Clemente aos coríntios, duas realidades conflituosas ainda persistiam na igreja, descritas na primeira carta do apóstolo Paulo àquela igreja (1Co 1.4-7; 3.1): a presença poderosa do Espírito e o comportamento carnal dos coríntios.

A inspiração do Espírito Santo, que move os ministros da graça de Deus, incluindo os profetas, a falarem sobre o arrependimento é também citada por Clemente:

Os ministros da graça de Deus falaram sobre o arrependimento, por meio do Espírito Santo. E o próprio Senhor do Universo falou do arrependimento, jurando: Eu vivo, diz o Senhor, e não quero a morte do pecador, e sim que ele se arrependa (Ez 18:23; 33:11). E acrescenta também um propósito bom: “Casa de Israel, arrependei-vos de vossa iniquidade. Dize aos filhos do meu povo: Ainda que vossos pecados cheguem da terra até o céu, e que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais sujos que o pano de saco, se vos converterdes a mim de todo o coração, e disserdes: ‘Pai’! – eu vos escutarei como um povo santo” (Ez 18:30; Sl 102:11; Jr 3:19,22). Em outra passagem, ele diz assim: “La- vai-vos e purificai-vos; tirai da presença dos meus olhos a maldade de vossas almas; acabai com as vossas maldades. Aprendei a praticar o bem, procurai a justiça, libertai o oprimido, defendei o órfão e fazei justiça à viúva. Depois vinde e discutamos, diz o Senhor. E ainda que os vossos pecados estejam como a púrpura, eu os tornarei brancos como a neve; se estiverem como o escarlate, eu os torna- rei alvos como a lã. Se quiserdes me ouvir, comereis dos bons produtos da terra; mas, se não quiserdes me ouvir, a espada vos devorará. Isso, de fato, foi a boca do Senhor que falou” (Is 1:16-20). Na sua onipotente vontade, ele decidiu que todos os seus amados tenham possibilidade de arrependimento.[5]

Clemente, ao destacar o agir do Espírito Santo por meio dos ministros da graça no Antigo Testamento e no Novo Testamento, que promove a possibilidade de arrependimento, perdão e restauração, nos remete à atividade do Espírito que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), levando-o a buscar desesperadamente a graça salvadora (At 2.37-40).

O Espírito Santo é mais uma vez citado por Clemente como inspirador dos profetas, que vaticinaram o advento, a obra e a morte do Senhor Jesus Cristo:

O Senhor Jesus Cristo, cetro da majestade de Deus, não veio, embora pudesse, no alarde da arrogância ou da soberba, mas humilde, conforme o Espírito Santo havia dito sobre ele. De fato ele diz: “Senhor, quem acreditou em nossa voz? A quem foi revelado o braço do Senhor? Nós anunciamos na presença dele” […].[6]

Associando o Espírito Santo mais uma vez a Deus e a Cristo, Clemente apela aos coríntios pela busca da unidade e da comunhão entre os irmãos, sobre quem o Espírito foi derramado:

Para que haver brigas, ódios, disputas, divisões e guerras entre vós? Não temos nós um só Deus, um só Cristo, um só Espírito de graça, que foi derramado sobre nós, e uma só vocação em Cristo? Por que esquartejamos e rasgamos os membros de Cristo? Por que nos revoltamos contra o nosso próprio corpo, chegando a tal ponto de loucura? Esquecemo-nos de que somos membros uns dos outros? Lembrai-vos das palavras de Jesus, o Senhor nosso. Com efeito disse: “Ai desse homem! Melhor seria para ele não ter nascido, do que escandalizar um só dos meus eleitos! Melhor seria para ele que lhe fosse amarrada uma pedra de moinho e o atirassem ao fundo do mar, do que per- verter um só dos meus eleitos!” (Mc 9:2). Vossa divisão perverteu a muitos, desencorajou a muitos, fez com que muitos duvidassem, e nos entristeceu a todos. E vossas dissensões continuam![7]

Diante das dissensões presentes na igreja em Corinto, Clemente apela à retomada por parte da igreja aos conselhos que Paulo, divinamente inspirado, lhes escreveu.

Tratando da interdependência e unidade de cada membro do corpo, a igreja, Clemente escreve: “Conservemos, portanto, todo o nosso corpo em Cristo Jesus, e cada um seja submisso a seu próximo, conforme o dom que lhe foi concedido”.[8]

Como pode ser percebida, a pneumatologia contida na epístola de Clemente aos coríntios em nada diverge dos escritos do Novo Testamento, onde a presença dos carismas fica evidenciado conforme as citações acima.

Fonte: pentecostalismo.com (Pentecostalismo com Inteligência)


[1] Apostólicos, Padres. Patrística – Padres Apostólicos – Vol. 1: Clemente Romano | Inácio de Antioquia | Policarpo de Esmirna | O pastor de Hermas | Carta de Barnabé | Pápias | Didaqué (Portuguese Edition) (pp. 12). Paulus Editora. Edição do Kindle.

[2] Ibid., p. 12-14.

[3] Ibid., p. 17.

[4] Ibid., p. 24.

[5] Ibid. 8:1-5, p. 28-29.

[6] Ibid. 16:2, p. 34.

[7] Ibid. 46:5-9, p. 56-57.

[8] Ibid., p. 50.

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