O Progressismo Teológico (representado pela Teologia da Libertação, Teologia da Missão Integral, Teologia Feminista, Teologia LGBTQI+ ou de Gênero, Teologia Negra, Teologia Ecumênica, Teologia Pluralista etc.) é resultado do processo que tem origem filosófica no Iluminismo, estando atualmente associado a alguns pressupostos ideológicos, metodológicos e conceituais que norteiam o Marxismo Cultural.
Há uma crença equivocada no senso comum, que o marxismo é apenas aquilo que se apresenta sob bandeiras vermelhas, foices e martelos. Desde a morte de Karl Marx, em 1883, o marxismo foi interpretado e reconfigurado de diversas formas, com maior ou menor proximidade a seus postulados.[1] O resultado disso podemos chamar de “Marxismos”, onde alguns desses ganharão aqui destaque.
Conforme bem analisa Iturralde:
Os capitalistas não entenderam que não existia, nem jamais existirá, um só marxismo histórico; que o marxismo era e sempre será uma ideologia dinâmica, em constante evolução, que só retrocede uma passo quando se assegura de que pode avançar dois ou três na próxima jogada. Muitos dos membros mais notáveis do comunismo advertiram que se devia dar um conteúdo estático às fórmulas marxistas. […] Lenin tinha advertido claramente sobre seu programa na década de 1920: “Se para conservar o poder precisarmos inverter completamente nossa orientação, o faremos”. […] Se há algo que o marxismo demonstrou amplamente através da história, é que não temeu ajustar as fórmulas dissolventes quantas vezes foi necessário, adaptando-as a cada povo, a cada raça e a cada religião. Historicamente, esse foi o erro fatal do ocidente em sua luta contra a esquerda revolucionária: não advertir sobre sua pluralidade.[2]
Os esquemas clássicos do marxismo foram abandonados (ou conforme a linguagem progressista contemporânea, “ressignificados”) há bastante tempo. Um resumo desse processo camaleônico segue abaixo:
Desde os anos 20 até os 90, a esquerda se move no globo basicamente em duas grandes esferas: a dogmática (ortodoxa, geralmente orgânica, revolucionária, do marxismo clássico) e a antidogmática (heterodoxa, inorgânica, revisionista, ainda que, dependendo do autor e sua exegese do fenômeno, certamente poderiam estabelecer-se maiores distinções e desprendimentos (nos quais, por razões práticas, não nos deteremos agora). As manifestações políticas mais conhecidas do primeiro grupo (que poderíamos localizar dentro do marxismo clássico, com um maior ou menor grau de apego aos postulados teóricos de Marx e Engels) incluem bolcheviques (marxismo-leninismo revolucionário), mencheviques (social-democratas), trotskistas (marxismo revolucionário, embora inorgânico, ou seja, não submetido a Moscou) etc. sob a segunda esfera destacada recairá a Escola de Frankfurt (e já nos anos 50 a “escola francesa”, com Sartre, Beavoir etc., à qual logo se juntou Foucault), apresentando a revolução cultural como veículo de revolução. Ainda que a essência de todos eles fosse puramente imanentista e sua metodologia para a análise da humanidade seja o materialismo histórico, que critica e tenta denegrir o modelo ocidental cristão-católico – coincidindo com a necessidade de uma mudança de ordem, ou seja, de uma revolução –, não havia concordância sobre os tempos e estratégias para alcançar o poder. Cada um tomou um caminho diferente e, em certas ocasiões, o mútuo receio chegaria a pô-los em confrontos – os expurgos e as dissidências internas sempre foram uma constante no marxismo.[2]
Foi essa capacidade camaleônica e diversidade do Marxismo, que possibilitou a incorporação de alguns dos seus pressupostos, métodos e conceitos nas Teologias Progressistas.
[1] ITURRALDE, Cristián Rodrigo. A Escola de Frankfurt e o início da nova esquerda. Tradução de Thaís Nicolini. Campinas, SP: Vide Editorial, 2022, 36,37.
[2] ITURRALDE, ibid., p. 39-41.
[3] ITURRALDE, ibid., p. 43,44.
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