A cooperação do educador Paulo Freire à Teologia da Libertação é destacada por Miller e Grenz:
A essa altura, os fundamentos práticos da teologia da libertação já haviam sido assentados na obra de Paulo Freire, educador católico do nordeste brasileiro. O fim da década de 1950 e princípio dos anos 60 foram testemunhas de um desencantamento crescente (na perspectiva socialista)[1] com o desenvolvimento econômico como forma de erradicar a pobreza na América Latina. Freire se voltou então diretamente para os pobres na tentativa de articular os primeiros passos que permitiriam lidar com seus problemas. Ele disse que os pobres precisavam se libertar da “mentalidade condicionada pela dominação”, e os ricos de sua mentalidade “condicionada pelo domínio”. Com esse objetivo, o educador brasileiro se engajou no que chamou de conscientização (marxista/socialista).[2]
Para Leonardo Boff, na esteira de Paulo Freire a TdL assumiu e cooperou na formulação da estratégia de interpretar o pobre como aquele que tem força histórica para mudar o sistema de dominação vigente por outro mais igualitário, participativo e justo, o que seria uma solução adequada à superação da pobreza.[3]
Segundo Gutiérrez, as experiências e trabalho de Paulo Freire, que tenciona construir uma “pedagogia do oprimido”, foram um dos esforços mais criadores e fecundos no processo de uma revolução cultural.[4] Freire ainda estaria com razão ao afirmar que: “no mundo de hoje só o homem, a classe, o país oprimidos podem denunciar e anunciar”, podendo assim ser capazes de elaborar utopias revolucionárias e não ideologias conservadoras ou reformistas.[5]
Na análise de Cappelletti, a TdL se aproximou do pensamento de Freire, ou seja, da pedagogia para a libertação do oprimido. Tal pensamento foi assumido e aplicado pelo teólogo da libertação José Comblin em sua “Teologia da Enxada”. Paulo Freire teria sido ainda uma referência tanto para a TdL, quanto para a Teologia da Missão Integral.[6]
A proximidade de Paulo Freire com a TdL é ainda evidenciada na introdução que ele faz à edição de 1997 do livro Teologia Negra, de James H. Cone:
Quando voltei para Genebra, li o livro pela segunda vez e, então, escrevi para Cone, dando a ele meu parecer e ressaltando a importância de sua publicação imediata na América Latina, pois a teologia negra, da qual Cone é o principal proponente nos Estados Unidos, está sem dúvida alguma, ligada à teologia da libertação que está aflorando nos dias de hoje (década de 1980) na América Latina. […] Qualquer reconciliação entre opressores e oprimidos, como nas classes sociais, pressupõe a libertação dos oprimidos, promovida pelos próprios, através de suas próprias práticas revolucionárias.[7]
A Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e a TdL estão estreitamente unidas no mesmo ideal revolucionários socialista.
[1] Nota do autor.
[2] Nota do autor. MILLER; GRENZ, ibid., p. 169
[3] BOFF, Teologia do cativeiro e da libertação, ibid., p. 13.
[4] GUTIÉRREZ, Teologia da libertação, ibid., p.
[5] GUTIÉRREZ, Teologia da libertação, ibid., p. 202.
[6] CAPPELLETTI, Paulo. Encontros das teologias latino-americanas: análise histórico-teológica da teologia da missão integral versus teologia da libertação. Londrina: Descoberta, 2019, p. 62.
[7] CONE, James H. Teologia negra. Tradução de Daniele Damiani. São Paulo: Recriar, 2020, p. 31,33.
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