A Carta de Barnabé foi encontrada nos manuscritos no século passado, no Sinaítico, por Tischendorf, em 1859, e no Gerusolemitano, por Bryennios, em 1875, esta carta não nos fornece o nome de seu autor, nem a data e o local de composição. Foi Clemente de Alexandria quem deu origem à tradição que atribui a autoria desta carta a Barnabé, companheiro e colaborador de Paulo. Em Stromates 5, 63,1-6 e no fragmento Hypotyposes mencionado por Eusébio em História Eclesiástica II,1,4, Clemente diz: “A Tiago, o Justo, a João e a Pedro, o Senhor, após sua ressurreição, transmitiu a gnose, estes a transmitiram aos outros apóstolos e os outros apóstolos aos 70, dos quais um era Barnabé”. A identificação do autor desta carta com o colaborador de Paulo foi adotada, em seguida, por Orígenes e o argumento aduzido se deve a que a carta fora encontrada entre os escritos do Novo Testamento, nos manuscritos Sinaíticos. Este argumento é responsável, também, pela inclusão da carta entre os livros canônicos, inspirados, por parte de Clemente e de Orígenes. Contudo, Eusébio e Jerônimo não aceitam este argumento e excluem a carta dentre os livros inspirados.[1]

Fundamentados na acolhida fervorosa de Clemente de Alexandria e de Orígenes, alguns estudiosos sugeriram que o autor seria um catequista-instrutor de catecúmenos da igreja de Alexandria, na primeira metade do século II. Além disso, a referência à gnose, o emprego da exegese alegórica, indicariam a influência de Fílon de Alexandria, o que aumentariam as possibilidade de localização do autor.[2]

Atualmente, com os trabalhos da crítica moderna, a autoria de Barnabé, colaborador de Paulo, está definitivamente descartada. As razões vêm do próprio texto. Primeiro: a marcada antipatia para com o judaísmo leva o autor a polemizar duramente contra os judeus; sua repulsa do Antigo Testamento; enquanto Paulo acolhe e reconhece a circuncisão como emanada de Deus, o autor da carta a atribui a um engano diabólico (9,4). Segundo; razões de ordem históricas e cronológicas não permitem que o autor esteja entre a geração apostólica. De fato, o texto fala não só da destruição, mas também da reconstrução do Templo de Jerusalém. Isso nos leva a procurar a data da composição a partir do final do século I até meados do século II (de 100 a 150).[3]

Sobre a poderosa obra do Espírito Santo, lemos na Carta de Barnabé:

Grandes e ricos são os decretos de Deus a vosso respeito. Acima de tudo, eu me alegro imensamente pelos vossos espíritos felizes e gloriosos, pois dele recebestes a semente plantada em vós mesmos, a graça do dom espiritual. Por isso, eu me alegro mais na esperança de me salvar, porque verdadeiramente vejo em vós que o Espírito da fonte abundante do Senhor foi derramado sobre vós. Em vosso caso, foi isso que me chamou a atenção ao vê-los, o que eu tanto desejava.[4]

Filhos do amor, aprendei mais particularmente estas coisas: Abraão, praticando por primeiro a circuncisão, circuncidava porque o Espírito dirigia profeticamente seu olhar para Jesus, dando-lhe o conhecimento das três letras.[5]

O profeta diz ainda: “Eis que eu te coloquei como luz das nações, a fim de que sirvas para a salvação, até os confins da terra. Assim diz o Senhor, o Deus que te libertou.” 9E o profeta diz ainda: “O Espírito do Senhor está sobre mim e, por isso, me ungiu para anunciar aos pobres o evangelho da graça. Ele me enviou para curar os corações quebrantados, para proclamar aos prisioneiros a liberdade e aos cegos a vista, para anunciar o ano favorável do Senhor e o dia da retribuição, para consolar todos os que choram.” [6]

Barnabé viu em seus destinatários a evidência do derramar do Espírito sobre eles, e se alegrou por isso.


[1] Apostólicos, Padres. Patrística – Padres Apostólicos – Vol. 1: Clemente Romano | Inácio de Antioquia | Policarpo de Esmirna | O pastor de Hermas | Carta de Barnabé | Pápias | Didaqué (Portuguese Edition) (p. 181). Paulus Editora. Edição do Kindle.

[2] Ibid.

[3] Ibid., p. 181,182.

[4] Ibid., p. 186.

[5] Ibid., p. 196.

[6] Ibid., p. 202.

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