Como anunciamos, estaremos com a presente postagem iniciando uma série de estudos que tratará das origens e diferenças textuais entre os textos do Novo Testamento da Bíblia Almeida Revista e Corrigida (ARC) e da Bíblia Nova Almeida Atualizada (NAA), visto que ambos os textos e versões são utilizados pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e recomendados pela Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB).

O Objetivo desses estudos é o de ajudar os leitores e expositores das referidas versões a entender e saber lidar com as questões que serão aqui expostas, visto que não temos como fugir delas. Para um maior aprofundamento sobre o assunto, recomendamos a aquisição das obras que serão citadas e especificadas no rodapé de cada postagem.

Desde já, é de fundamental importância ressaltar que as diferenças textuais existentes entre os dois textos e versões do Novo Testamento da ARC e da NAA, não comprometem qualquer uma das doutrinas essenciais da fé cristã, mas, podem fazer com que os leitores e expositores tenham que decidir entre um e outro texto e versão em algumas situações específicas.

O Desenvolvimento do Texto do Novo Testamento da Bíblia Almeida Revista e Corrigida

João Ferreira de Almeida nasceu em Torre de Tavares, próximo a Lisboa, em 1628. Deixou Portugal aos 14 anos de idade, partindo para a Holanda, e de lá para Málaca, nas índias Orientais. No Oriente, Almeida passou a congregar na Igreja Reformada Holandesa, sendo ordenado ao ministério no dia 16 de outubro de 1658. Sua educação teológica se deu com aulas particulares. Almeida não frequentou Seminário ou Faculdade de Teologia.[1]  Exerceu o pastorado na cidade de Batávia, na ilha de Java, até setembro de 1689, vindo a falecer em 1691, aos 63 anos de idade.[2]

A tradução do Novo Testamento a partir do texto grego foi concluída por Almeida em 1670, vindo a ser publicado somente em 1681, onde se calcula uma tiragem de mais de mil exemplares, visto que a terceira edição, de 1972, foi de apenas 1250 exemplares.[3]

Do processo de tradução de Almeida as informações são bastante escassas. Naquela época, o texto grego do Novo Testamento disponível era o Textus Receptus (publicado originalmente por Erasmo de Roterdã, em 1516, com base em alguns poucos manuscritos gregos do século doze e treze).[4] Se Almeida usou a mais recente edição desse texto, logo se deduz que seu processo de tradução partiu da segunda edição publicada pelo irmãos Elzevir, em 1633. Foi através de Elzevir que o texto de Erasmo recebeu o nome de Textus Receptus (texto recebido), oriundo da seguinte descrição feita pelo mesmo: “O que tens aqui, pois, é o texto que hoje é universalmente recebido: nós o apresentamos livre de quaisquer alterações e corrupções.”[5] O Textus Receptus chegou a ser considerado como tendo autoridade canônica, apesar de todos as suas limitações, à luz do que se sabe na atualidade.[6] Além do texto grego, Almeida se utilizou para a sua tradução de versões da língua espanhola, francesa, italiana, holandesa e latina.[7] Na atualidade, o principal representante do Textus Receptus é o Texto Majoritário, que é considerado pelos seus editores “uma versão bem mais atual e acurada do Textus Receptus”.[8] Os principais defensores contemporâneos desse texto são Zane C. Hodges e Arthur L. Farstad, que produziram The Greek New Testament According to the Majority Text (O Novo Testamento Grego Segundo o Texto Majoritário).[9]

A segunda edição, publicada em 1693, seguiu a tradução de Almeida de 1681, e foi composta por João Vries, na cidade da Batávia, em Java Maior. Após a terceira edição, publicada em 1712, foi feita uma grande revisão, tendo como membros da Comissão revisora o pastor Mohr e um amigo anônimo. Outra revisão foi feita em Londres, entre 1869 e 1875, e em 1894. Uma pequena revisão ortográfica foi realizada em 1916 em Portugal. Essas edições de Almeida foram trazidas ao Brasil e aqui distribuídas pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.[10]

No Brasil, em sua Edição Revista e Corrigida, houve revisões do texto de Almeida, onde as edições datam de 1898 (1ª edição), 1969 (2ª edição), 1995 (3ª edição) e 2009 (4ª edição).  

A Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global, publicada no Brasil, em 2022, pela CPAD, se utilizada da 4ª edição da ARC, enquanto a antiga Bíblia de Estudo Pentecostal, publicada no Brasil em 1995, se utiliza da 3ª edição da ARC, ou seja, o texto da Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global é o mais atualizado.

Entre esses os dois textos da ARC, uma diferença e importante alteração pode ser encontrada em 1 João 3.4,6,8 e 9. Tal revisão foi necessária para refletir com mais exatidão e clareza o sentido dos verbos do texto original grego, língua em que o Presente e o Particípio Presente indicam ação contínua, costumeira, habitual. Dessa forma, 1 João 3.4 mudou de “Qualquer que comete o pecado”, para “Qualquer que pratica o pecado”. O versículo 6 mudo de “não peca”, para “não vive pecando”. O versículo 8 tinha “Quem comete o pecado”, e agora temos “Aquele que pratica o pecado”. Por fim, no versículo 9, a afirmação “não comete pecado” foi alteradas para “não vive na prática do pecado”, e “não pode pecar” foi corrigido para “não pode viver pecando”.

Essas alterações, fizeram com que o texto do capítulo 3 de 1 João, que parecia na 3ª edição da ARC defender a “doutrina da impecabilidade do crente”, se alinhar com as verdades expostas em seu capítulo 1.8-9, que afirma claramente a realidade do pecado ainda presente em nossa vida, e a necessidade de confissão e busca contínua por perdão e purificação.


[1] ALVES, Herculano. João Ferreira de Almeida tradutor da Bíblia. In: A tradução da Bíblia para a língua portuguesa: 325 anos da 1ª edição do Novo Testamento em português. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007, p. 23-24.

[2] SCHOLZ, Vilson. Bíblia de Almeida: sua origem, as revisões e os princípios envolvidos. In: 1600 anos da primeira grande tradução ocidental da Bíblia: Jerônimo e a tradução da Vulgata Latina. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006, p. 7-11.

[3] Ibid., p. 9-10.

[4] ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. O texto do Novo Testamento: introdução às edições científicas do Novo Testamento Grego bem como à teoria e prática da moderna crítica textual. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p. 5.

[5] Ibid., p. 6.

[6] Ibid., p. 8.

[7] ALVES. Ibid., p. 24-32.

[8] GOMES, Paulo Sérgio; OLIVETTI, Odayr. Novo Testamento interlinear analítico: texto majoritário com aparato crítico grego-português. 2. ed., de Zane C. Hodges e Arthur L. Farstad. São Paulo: Cultura Cristã, 2015 (do prefácio).

[9] COMFORT, Philip W. Manuscritos do Novo Testamento: uma introdução à paleografia e à crítica textual. Tradução de José Ribeiro Neto. São Paulo: Vida Nova, 2022, p. 135.

[10] SCHOLZ. Ibid., p. 18-20.

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