A masturbação é um daqueles temas que a Bíblia não trata de forma direta, sendo necessário analisá-lo à luz de princípios e inferências. Entre teólogos, psicólogos e pastores não há unanimidade em torno das questões que envolvem tal prática. Les Parrot considera um dos tipos de comportamento sexual mais discutidos, duramente condenados e universalmente praticados.[1]
A psicóloga Valquíria Salinas em seu livro “Mente Saudável para o Adolescente” afirma que a masturbação é pecaminosa apenas quando se faz uso de pornografia para se excitar, e é saudável desde que controlada e temporária para evitar concupiscência antes do casamento, para aliviar a tensão. Desde que o individuo não se torne compulsivo a prática da masturbação não seria imoral.[2] O teólogo Norman L. Geisler, citado nas referências bibliográficas de Valquíria Salinas, defende esse ponto de vista.[3]
No livro “Responda-me por favor: namoro, sexualidade e drogas”, de Marta Doreto de Andrade e Claudionor de Andrade, legitimar a masturbação é algo visto como um posicionamento liberal, e que diante disso alguns princípios bíblicos devem ser considerados.[4] Robert Daniels, em “Pureza Sexual: como vencer sua guerra interior”, classifica a masturbação como um meio imoral de aliviar tensão emocional e por em prática nossos desejos pessoais.[5]
As causas da masturbação são atribuídas a diversos fatores, dentre os quais: (a) Sensação prazerosa e alívio físico da tensão sexual; (b) Estímulos do ambiente; (c) Busca de autoconhecimento; (d) Fuga.[6]
Enquanto para alguns psicólogos a masturbação é uma solução para o problema das tensões sexuais, para outros é o início de problemas maiores. A psicóloga Eslly Lais, por exemplo, em sua perspectiva cristã alerta para o fato de que são poucos os casos onde a prática não se torna um vício, e isso devido a liberação de dopamina (neurotransmissor que atua no sistema de recompensa, onde ao realizarmos determinadas atividades produz a sensação de prazer), e afirma ainda que a tensão sexual pode ser aliviada por outros meios, como por exemplo, a prática de atividade física, visto que libera o mesmo índice de dopamina.
O pastor e teólogo Elienai Cabral, ao tratar sobre os impulsos sexuais em seu livro “A Juventude Cristã e o Sexo”, é de igual opinião: “O jovem cristão deve também procurar atividades físicas criativas, a fim de orientar suas energias para aquilo que lhe dê a satisfação de ter feito algo de bom”.[7] Marta Doreto e Claudionor de Andrade seguem a mesma linha: “Dirija sua disposição física para outras atividades. Faça caminhadas, ou qualquer outra coisa que lhe proporcione dispêndio de energia”.[8] Outras sugestões são dadas:
– Rejeitar os pensamentos eróticos e ocupar a mente com o que é puro, santo e verdadeiro (Fp 4.8);
– Rejeitar leituras, filmes e sites pornográficos;
– Evitar ambientes (presenciais e virtuais) e circunstâncias que estimulem a prática da masturbação;
– Atentar para uma vida devocional constante de estudo, leitura bíblica e oração;
– Considerar que a polução noturna é um recurso natural em favor do alívio das tensões sexuais;
– Envolver-se nas atividades da igreja;
– Buscar ajuda profissional;
– Contar com a ajuda de Deus (1 Co 10.13).
E a questão bíblica e teológica? A masturbação é pecado? Como já dissemos na introdução, não há um mandamento bíblico explícito contra a prática da masturbação, mas podemos aplicar princípios e inferências sobre a questão:
– Em Mateus 5.28 lemos que quem olha para uma mulher com intenção impura (gr. epithymesai, desejo intenso) já cometeu adultério (prática sexual ilícita) no seu coração. De forma semelhante, a prática da masturbação envolve pensamentos onde alguém se torna objeto do desejo sexual de quem se masturba. Falar da prática da masturbação como algo que não conduz a pensamentos sexuais é algo absolutamente irreal;
– Deve-se fugir das paixões (gr.epithymias, desejos intensos) da mocidade (2 Tm 2.22). O verbo “fugir” (gr. pheuge) é um imperativo que se encontra no tempo presente, o que implica numa ação contínua: “Foge continuamente dos desejos intensos próprios da juventude”.
– Os membros do nosso corpo não devem ser oferecidos ao pecado (Rm 6.13-14);
– O hábito de masturbar-se é vicioso e dominador (Rm 6.12,16);
– A masturbação é resultado de uma vida que cumpre a concupiscência da carne (Gl 5.16-17);
– A masturbação não é uma prática santa (1 Ts 5.23; 1 Pe 1.14-16);
– A masturbação não glorifica a Deus (1 Co 10.31).
A masturbação pode afetar a dimensão corporal, psíquica e espiritual, causando dependência, culpa e outros males. Em minha experiência pastoral pude constatar os mais diversos danos na vida pessoal e conjugal daqueles envolvidos com a prática da masturbação.
Compreendo que a masturbação
é uma prática pecaminosa que pode ser abandonada, e que uma vez confessada
diante de Deus, tem o seu gracioso e amoroso perdão (1 Jo 1.9; 2.1-2).
[1] PARROT, Les. Adolescentes em conflito: os 36 problemas mais comuns na adolescência. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 272.
[2] SALINAS, Valquíria. Mente saudável para o adolescente: desvendando a psique do jovem. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 107.
[3] GEISLER, Norman L. Ética cristã: alternativas e questões contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 171.
[4] ANDRADE, Marta Doreto; ANDRADE, Claudionor de. Responda-me por favor!: namoro, sexualidade e drogas. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 107.
[5] DANIELS, Robert. Pureza sexual: como vencer sua guerra interior. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 201.
[6] PARROT, ibid., p. 275-276.
[7] CABRAL, Elienai. A juventude cristã e o sexo. 7. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 31.
[8] ANDRADE, Marta Doreto; ANDRADE, Claudionor de. Ibid., p. 114.
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