Sem dúvida alguma, ao longo da história muitas ideias equivocadas surgiram em torno do edifício onde a igreja se reúne. Como exemplo, podemos citar:

– Chamar o próprio edifício de igreja;- Desperdiçar muito tempo e dinheiro em instalações exageradamente grandes e/ou absurdamente luxuosas;

– Sacralizar as instalações, comparando-as ao templo do Antigo Testamento, com direito inclusive a um lugar imaginariamente chamado de santo (nave do templo) e santo dos santos (tribuna de honra).

Esses equívocos desqualificam o templo/edifício como local de reunião da igreja? Penso que não. Os equívocos devem ser corrigidos? Afirmo que sim.

O movimento de “Igrejas nos Lares” ou “Desigrejados/Desinstitucionalizados” faz dos equívocos acima argumento para desqualificar nos dias atuais a reunião da igreja em templos/edifícios próprios. Afirmam ainda que biblicamente só deveríamos nos reunir nas casas dos irmãos, e que os templos/edifícios são apenas ideias pagãs incorporadas ao cristianismo ao longo dos séculos.

É verdade que o Novo Testamento está repleto de textos que falam que a igreja se reunia em casas, mas é verdade também que os referidos textos são apenas narrativos, em vez de normativos.

Reunir-se nas casas não era uma regra ou norma imposta pelos apóstolos, mas uma necessidade da igreja primitiva, visto que ainda se encontrava em seu estágio inicial, e também sem legalidade para ocupar formalmente outros espaços. Mesmo assim, encontramos a igreja se reunindo eventualmente também no Pórtico de Salomão (At 5.12) e na escola de Tirano (At 19.9). A arqueologia identifica reuniões da igreja em cavernas, provavelmente em períodos de perseguição.

O estudo sobre o culto cristão e o desenvolvimento dos espaços litúrgicos nos revela, que antes mesmo de Constantino promover a construção de templos/edifícios, já havia iniciativas para a criação de um espaço mais adequado para a reunião da igreja.

Dessa forma, condenar categoricamente a reunião da igreja em edifícios próprios, e afirmar paralelamente a isso que somente nas casas tal reunião se legitima biblicamente, é um equívoco hermenêutico e histórico do movimento “Igreja nos Lares” ou “Desigrejados/Desinstitucionalizados”.

A igreja pode sim, reunir-se tanto nas casas dos irmãos, quanto em edifícios próprios (e ainda em outros lugares), de acordo com a situação concreta e contexto onde ela está inserida.

A ênfase exagerada ou equivocada sobre o templo/edifício deve ser corrigida, sem que outros exageros ou equívocos sejam “edificados”, solidificados e reproduzidos acriticamente.

Foto: AD em São José (SC).

Obs: Texto publicado originalmente em 4/2/2018.

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