A chamada “hermenêutica reformada”, que inspirou o termo “hermenêutica pentecostal”, segundo o teólogo reformado calvinista Paulo Anglada, caracteriza-se, dentre outros aspectos, pelos seguintes:
- Ênfase no método histórico-gramatical;
- Ênfase na inspiração, autoridade suprema, suficiência, clareza e preservação das Escrituras;
- Ênfase no papel do Espírito Santo na revelação e inspiração da Bíblia, e na iluminação do intérprete.
Em relação ao papel da experiência na interpretação das Escrituras, diz Anglada:
“A experiência pessoal do intérprete, seja ela espiritual ou fenomenológica, não deve ser desprezada, mas não pode ser considerada como referencial fidedigno de interpretação. As experiências pessoais devem ser interpretadas à luz das Escrituras e não o contrário. Esse é um dos grandes perigos na interpretação bíblica […] A experiência têm, portanto, apenas um papel secundário na interpretação das Escrituras. Elas devem ser levadas em consideração somente como um elemento adicional na avaliação da autenticidade da nossa interpretação. […] a experiência humana precisa ser submetida à autoridade das Escrituras.” (Introdução à hermenêutica reformada, Knox Publicações, 2016, p. 126-154, 227-228)
Qual a diferença dos aspectos da prática hermenêutica reformada, daquilo que chamam “hermenêutica pentecostal”? Acredito que apenas nas ênfases. A ênfase pentecostal em experiências é maior, no geral, do que a dos reformados cessacionistas.
Nenhum dos dois segmentos (tirando os teólogos liberais e progressistas presentes nos mesmos), nega o papel fundamental e primordial das Escrituras na interpretação bíblica.
Dessa forma, a chamada “hermenêutica pentecostal” defendida por teólogos pentecostais ortodoxos, é na realidade a “hermenêutica reformada” com um nome diferente, com uma ênfase diferente, e com alguns pressupostos diferentes em relação ao batismo no Espírito Santo e a atualidade de todos os dons espirituais.
Quando comparados com os reformados continuacionistas, a prática e os pressupostos hermenêuticos dos pentecostais são praticamente os mesmos dos reformados.
Sendo assim, me parece que a chamada “hermenêutica pentecostal” é mais reformada em sua prática, métodos e pressupostos do que alguns pensam.
Assinado: um pastor, teólogo e hermeneuta pentecostal, que tenta valorizar o que há de bom e relevante nas outras tradições cristãs.
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