Vou direto ao ponto. Não existe, como alguns afirmam, uma “hermenêutica pentecostal” (ciência hermenêutica pentecostal), e sim pentecostais que usam métodos hermenêuticos já disponíveis (prática hermenêutica pentecostal).

Qual método o pentecostal utiliza, por exemplo, na interpretação das epístolas do Novo Testamento? No geral, o método histórico-gramatical, utilizado desde a Reforma pelos seus herdeiros. E na interpretação dos textos narrativos (Evangelhos, Atos, etc.), que método os pentecostais utilizam? No geral, a análise narrativa (de forma objetiva ou intuitiva), associada ao método histórico-gramatical.

Uma diferença entre os pentecostais e alguns segmentos evangélicos é, com base na análise narrativa (e em outros métodos), entender que os textos bíblicos narrativos possuem também intenção teológica, e não apenas histórica, ou seja, não são apenas “descritivos”, pois possuem passagens normativas (identificáveis com base na aplicação de técnicas da análise narrativa).

O pentecostal lê Atos diferente dos crentes tradicionais? Também não. Os crentes tradicionais, inclusive os cessacionistas, também se identificam com as narrativas de Atos, fazendo delas as suas histórias, com a diferença de não acreditarem na atualidade do batismo no Espirito Santo, ou de discordarem teologicamente de sua definição. Como se vê, a ideia de uma “hermenêutica pentecostal” não se sustenta, pois o que se altera no uso dos métodos hermenêuticos utilizados pelos evangélicos (pentecostais e não pentecostais) são os pressupostos dos intérpretes.

A análise narrativa tem as suas raízes em Aristóteles (384-322 a.C.), através de sua obra “Poética” (Editora 34), foi desenvolvida pelo folclorista russo Vlademir Iakovlevitch Propp (1895-1970), no livro Morfologia do Conto Maravilhoso (Forense Universitária), e seu fundamento acadêmico atual pode ser encontrado, dentre outras, na obra de Daniel Marguerat e Yvan Bourquin, intitulada “Para Ler as Narrativas Bíblicas” (Edições Loyola), publicada originalmente na França, em 1998.

Já o método histórico-gramatical tem as suas raízes históricas na Escola de Antioquia (séc. IV), com Luciano de Samosata, nos monges do mosteiro de São Victor, na França, nos pré-reformadores, nos humanistas renascentistas e na Reforma Protestante (séc. XVI), com os reformadores. Uma “hermenêutica pentecostal” pressupõe originalidade e plena distinção metodológica, o que não é o caso.

Concluo com a mesma declaração com a qual iniciei o presente texto: Não existe uma “hermenêutica pentecostal” no sentido de uma ciência da interpretação criada pelo pentecostalismo, e sim pentecostais que se utilizam dos métodos hermenêuticos já disponíveis, para o processo de interpretação bíblica.

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

Seja o primeiro a comentar!