O ecumenismo do CMI já foi chamado de “ecumenismo secular”. É comum nos círculos ocidentais o CMI ser identificado como politicamente de esquerda. Nas décadas de 70 e 80 foram publicadas acusações de que muitas organizações ecumênicas estavam dando dinheiro das igrejas-membros, sem o devido conhecimento delas, para causas revolucionárias radicais, marxistas e grupos armados. Houve, por exemplo, uma controvérsia muito grande quando em 1978, através do seu programa de combate ao racismo, o CMI fez doações aos movimentos armados que estavam tentando derrubar o governo de minoria branca na Rodésia (atual Zimbáube).[1] E ainda:

A entrada e visibilidade de igrejas da Europa Oriental (especialmente a Igreja Ortodoxa Russa, que tem o maior número de membros filiados no CMI que qualquer outra igreja-membro) levantou suspeitas de infiltração por parte de agentes dos serviços de inteligência soviéticos e outros. Ao mesmo tempo, houve repetidas críticas de que o CMI, zeloso em denunciar as violações aos direitos humanos por parte das ditaduras militares de direita no mundo todo, era irresponsável e culpavelmente silencioso acerca da opressão dos governos comunistas totalitários e permanecia impassível e inativo diante da perseguição de dissidentes cristãos nas mãos deles.[2]

Abraão de Almeida descreve, que em sua IV Assembleia de Uppsala, Suécia, em 1968, não foi permitido o acesso ao plenário do pastor Richard Wurmbrand, autor de Cristo em Cadeias Comunistas e Torturado por Amor a Cristo, que ficou do lado de fora denunciando as práticas comunistas do CMI.[3] O Exército da Salvação chegou a se separar temporariamente do CMI, e isso em protesto contra a ajuda econômica prestada à “Frente Patriótica” que dirigia guerrilhas contra o governo rodesiano de Ian Smith.[4]

Por ocasião da Assembleia de Vancouver (Canadá), realizada de 24 de julho a 10 de agosto de 1983, foram feitas acusações de parcialidade do CMI, que censurou abertamente a política norte-americana na América Central, mas se omitiu sobre a questão da ocupação soviética do Afeganistão, e silenciou sobre a violação dos direitos humanos, especialmente da liberdade religiosa, nos países socialistas.[5]

Críticas severas também foram feitas ao CMI pelo Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa), uma entidade apartidária, fundada em 1992, em Tlaxcala, México, e Anápolis (GO), com a proposta de contribuir para a reestruturação das atividades políticas como a forma mais elevada de exercício do Bem Comum.[6]

O MSIa critica as demandas radicais das redes da Teologia da Libertação congregadas na Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), um braço amazônico do CMI, que segundo o MSIa, atua sob o disfarce de promotora do ecumenismo e da defesa de causas de grande apoio público, como os direitos humanos, proteção dos povos indígenas e do meio ambiente, desarmamento civil e outras.[7]

A estratégia do CMI para tal propósito incluiu o tradicional apelo a uma constelação de celebridades, engajada na divulgação de um manifesto em favor de uma campanha internacional para a proteção dos indígenas  amazônicos, ao mesmo tempo em que criticava o governo brasileiro pelas suas ações na pandemia. A iniciativa foi do consagrado fotógrafo Sebastião Salgado, que vive em Paris e tem vínculos com o CMI desde a década de 1970. Em março de 2020 Salgado se reuniu em Paris com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para discutir a “defesa da Amazônia”. A turnê europeia do ex-presidente incluiu uma visita à sede do CMI, em Genebra, Suíça, oficialmente, para “debater o enfrentamento à desigualdade no mundo.[8]

Em seu discurso político-ecumênico, o ex-presidente Lula falou ao secretário geral do CMI, Olav Fylkse Tveit, que era contra as igrejas serem partidarizadas, e que “na hora da eleição os pastores votam com a consciência deles. Mas na pregação eles tem que defender os mais pobres. Os esquecidos. Os marginalizados. Essa é a causa de Jesus Cristo”.[9] Disse ainda, como é próprio do discurso político e ecumênico de conveniência e politicamente correto:

Eu não preciso ser evangélico para defender os evangélicos. Não preciso ser de uma religião de matriz africana para defender uma pessoa dessa religião. O que eu preciso é defender o livre exercício de cada religião”, ressaltou. É preciso criar o mínimo da harmonia entre os seres humanos. E acredito que isso é possível como acredito em Deus. Pode demorar, mas vamos trabalhar pra isso acontecer.[10]

Participaram do encontro Isabel Phiri, secretária-geral adjunta do Conselho Mundial de Igrejas, a pastora Lusmarina Campos Garcia, do Fórum Ecumênico ACT Brasil, e o reverendo Odair Pedroso, Diretor do Departamento de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas.[11]

Ecumenismo e esquerdismo (comunismo. Socialismo, marxismo cultural etc.) caminham juntos em vários contextos, assemelhando-se aos dois lados de uma mesma moeda.


Referências:


[1] LOSSKY, Nicholas et al (E.E.). Dicionário do Movimento Ecumênico. Tradução de Jaime Clasen. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005, , p. 310.

[2] Ibid., p. 311.

[3] Almeida, Abraão de. Teologia Contemporânea. CPAD. Edição do Kindle., p. 184.

[4] Ibid., p. 185.

[5] S.J. Jesús Hortal. E haverá um só rebanho: história doutrina e prática católica do ecumenismo. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996, p. 197.

[6] Conselho Mundial de Igrejas mobiliza suas tropas “amazônicas” contra o Brasil. Disponível em https://msiainforma.org/conselho-mundial-de-igrejas-mobiliza-suas-tropas-amazonicas-contra-o-brasil/, acesso em 21/06/2021.

[7] Ibid.

[8] Ibid.

[9] https://lula.com.br/em-visita-ao-conselho-mundial-de-igrejas-lula-firma-parceria-para-combater-indiferenca-a-desigualdade/, acesso em 21/06/2021.

[10] Ibid.

[11] Ibid.

Imagem créditos: https://lula.com.br/

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