A palavra “depravação” pode ser definida como corrupção ou perversão. Na perspectiva teológica, “depravação” refere-se à nossa pecaminosidade  e impiedade.[1] A Queda não destruiu a imagem de Deus no homem, mas apenas a danificou. Nestes sentido, a imagem de Deus no homem foi maculada, degradada e pervertida pelo pecado, mas não destruída. Com a destruição da imagem de Deus, não poderíamos ser mais considerados seres humanos. É em razão disso que ainda podemos fazer coisas boas (Rm 2.14,15), mas que não podem nos trazer a Salvação (Mt 19.18-23; Ef 2.9). A nossa “depravação total significa que, mesmo podendo fazer coisas boas, o pecado prevalece em nosso coração, contaminando todo o nosso ser.

O sentido de “total”, no que diz respeito à “depravação total do ser humano”, não é total no sentido de intensidade, mas de abrangência.[2] A depravação total do ser humano: “não significa que toda pessoa é tão má quanto é capaz de tornar-se. Isto de fato significa, contudo, que toda parte da natureza humana está malignamente afetada pela queda, quer a mente, os desejos, ou a vontade. […] Isto não significa que não haja nada nobre acerca dos seres humanos após o Éden.”[3] A depravação total: “também não significa que os seres humanos não têm consciência que lhes permita distinguir, em certa medida, entre o bem e o mal, mas que a consciência tem sido afetada pela Queda de modo que não pode ser uma guia seguro e confiável”.[4] O pecado se espalhou por todas as partes do nosso ser. A depravação total quer dizer que todos nós, em todo o nosso ser, fomos contaminados pelo pecado, o que nos deixou com uma inclinação natural e prevalecente para o mesmo, impedindo-nos de fazer a vontade de Deus e de vir a Ele (Mc 7.21,23; Rm 7.14-24).

Essa condição de depravação total da humanidade pode ser exemplificada através de diversas listas de vícios e pecados cometidos pelas pessoas (Mt 15.19; Rm 1.18-32; 3.9-18; 1 Co 6.9,10; Gl 5.19-21; Ef 5.5; Cl 3.5; 1 Tm 1.9,10; 2 Tm 3.1-5 e Ap 21.8; 22.15).[5] O ser humano, em seu estado caído, não tem livre-arbítrio para as coisas de Deus, pois este foi obliterado e mortificado.[6]  Somos incapazes, em razão da depravação total, de nos salvarmos (Rm 3.9-12; Ef 2.1-3).[7] O Espírito Santo  (Jo 16.8,9) e a palavra de Deus (Rm 10.8,14-17) operam o despertamento no homem, fazendo (ou habilitando) a sua vontade buscar e aceitar a salvação.[8] Dessa forma: “Cremos que todos os homens e mulheres foram atingidos pelo pecado a tal ponto que, embora tenham sido feitos à imagem de Deus, não podem, por si mesmos, chegar a Deus. […] Todavia, os seres humanos, influenciados pela graça que habilita a livre escolha, são livres para escolher […]”.[9]


[1] COUTO, Vinicius. Em favor do Arminianismo-Wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade. São Paulo: Editora Reflexão, 2016, p. 83.

[2] DANIEL, Silas. Arminianismo: a mecânica da salvação. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 351,352.

[3] PICIRILLI, Robert E. Livre arbítrio revisitado: uma resposta respeitosa a Lutero, Calvino e Edwards. Tradução de Wellington Carvalho Mariano. Cuiabá, MS: Palavra Fiel, 2019, p. 123.

[4] MAIA, Carlos Kleber. Depravação total. São Paulo: Editora Reflexão: 2015, p. 55.

[5] OLIVEIRA, Fábio Henrique Tavares. Depravação total: um retrato da natureza humana com base em II Timóteo 3.1-5. São Paulo: Editora Reflexão, 2018, p. 15.

[6] DANIEL, ibid., p. 351-353.

[7] PECOTA, Daniel B. A obra salvífica de Cristo. In: HORTON, Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal, ibid., p. 351.

[8] BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 191.

[9] Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 113.

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