É conveniente um pastor se candidatar a um pleito eleitoral? Sem dúvida alguma essa é uma questão que divide opiniões. Uma das razões é que a Bíblia, e mais especificamente o Novo Testamento, em razão do contexto político da época não trata da questão.
Historicamente é possível constatar a participação de pastores na política partidária, como os casos do pastor calvinista Abraham Kuyper, que em 1874 deixou o pastorado da Igreja Reformada de Amsterdã, e tornou-se líder do Partido Antirrevolucionário, para em 1901 assumir o cargo de Primeiro-Ministro da Holanda, e do pastor pentecostal Lewi Pethrus que entregou o pastorado da Igreja Filadélfia em Estocolmo no ano de 1958, para em 1964 fundar o Partido Democrático Cristão da Suécia, e tornar-se Vice-Presidente do mesmo. Através de suas ações na esfera pública, por exemplo, foram criadas universidades onde a ortodoxia cristã serviu de fundamento.
Abraham Kuyper e Lewi Pethrus, mesmo após deixarem o pastorado, continuaram contribuindo ministerialmente através de pregações, palestras e de outras ações, que promoviam o calvinismo (Kuyper) e o pentecostalismo (Pethrus).
Outro caso interessante é o de Antônio Torres Galvão, que após alguns anos de atividade pastoral na Assembleia de Deus na cidade de Paulista-PE (onde resido), passou a exercer atividades públicas como líder sindical dos operários do setor têxtil, culminando com a sua eleição para Deputado Estadual por dois mandatos consecutivos. Em 1952, na condição de presidente da Assembleia Lesgislativa (sendo o deputado mais votado do último pleito), assumiu interinamente o governo de Pernambuco em razão da morte de Agamenom Magalhães. Outros casos poderiam ser aqui citados.
A minha posição é que a participação de pastores em em pleitos eleitorais deve ser considerada como exceção, e não regra. Para isso, penso que algumas questões deveriam ser levadas em consideração:
1. Uma convicção pessoal sobre a vontade de Deus na tomada dessa decisão;
2. Uma compreensão da esfera política como algo debaixo da soberania de Deus;
3. Uma percepção da política como oportunidade de servir para o bem comum;
4. Uma consciência política amadurecida;
5. Uma clareza da aprovação eclesial (ministério e membros) sobre a decisão;
6. Uma disposição em declinar da atividade de pastor presidente ou titular da igreja (ou função semelhante que inviabilize o mandato).
Outras considerações poderiam ser listadas, mas para o momento me deterei nas aqui pontuadas. O espaço também não me permite justificar cada uma, mas havendo dúvidas (o que é de se esperar), tentarei responder nos comentários.
É claro que haverá quem não concorde com algumas delas (ou com todas). Acredito que a questão da participação ativa de pastores em pleitos eleitorais (ou na política de forma geral) será sempre motivo de controvérsias, principalmente quando se percebe o despreparo, a não vocação e os interesses meramente pessoais (e até imorais) de alguns.
Nos últimos anos muitos evangélicos (falo a partir da realidade pentecostal) e instituições saíram abruptamente do apoliticismo para o adesismo ou ativismo político, da demonização política para a adoração ideológica, da alienação para a politização, e tudo isso têm diversas implicações, que se não consideradas devidamente, poderão resultar em sérios prejuízos para o testemunho cristão no Brasil.
Em tempos de “polarização” ideológica diante da atual pluralidade política nacional, espero continuar contribuindo para um debate mais equilibrado e para uma reflexão madura sobre o tema política no contexto evangélico brasileiro, e mais especificamente no pentecostal.
Excelente e equilibrada abordagem, nobre Pastor Altair Germano. Eu sou presbítero da Assembléia de Deus em São Paulo e tenho visto muitos pastores misturarem o ministério pastoral com a política partidária, cometendo inclusive, crimes eleitorais ao usarem as instalações da Igreja para fazer campanha.
Eu não tenho nada contra um cristão evangélico ser político. Ao contrário, acho benéfico que os cristão tenham representantes que defendam os nossos princípios nos parlamentos e governos. Entretanto, no caso dos ministros do Evangelho, esta mistura acaba prejudicando a atividade ministerial e a reputação da Igreja, nos casos de haver algum escândalo, pois, automaticamente a Igreja será associada. Então, eu defendo a posição de que qualquer obreiro ao optar pela política, que se licencie do cargo que ocupa na Igreja e durante a campanha não tenha oportunidade para falar na Igreja, como acontece com jornalistas, radialistas e apresentadores de programas de TV.