A primeira edição publicada do texto grego, foi a de Desidério Erasmo (Erasmo de Roterdã), em Basle, em 1516, seguida de sua edição de 1519 que foi usada por Martinho Lutero em sua tradução para a língua alemã. Erasmo também publicou edições em 1522, 1527 e 1535. As duas últimas incluíram algumas mudanças da Poliglota Complutensiana. Erasmo utilizou para as suas edições cinco ou seis textos bizantinos tardios, datados do século 10 a 13, disponíveis na época.[1] Outras edições e publicações desse texto foram feitas por Simão Colineo (Paris,1534), Robert Stephens (Paris, 1546, 1549, 1550 e 1551), Teodoro de Beza (Genebra, 1565, 1567, 1582, 1580,1588, 1590, 1598 e 1604), os irmãos Elzevir, Bonaventure e Abraham (Leyden, 1624, 1633 e 1641), seguindo a edição de Beza de 1565.[2] Foi através da edição de 1633, dos irmãos Elzevir, que o texto de Erasmo recebeu o nome de Textus Receptus (texto recebido), oriundo da seguinte descrição feita pelos editores no prefácio à obra: “O que tens aqui, pois, é o texto que hoje é universalmente recebido: nós o apresentamos livre de quaisquer alterações e corrupções.”[3] As edições de Beza, particularmente a de 1598, as duas últimas edições de Stephens (1550 e 1551),[4] e a edição de 1633, dos irmãos Elzevir, podem ter sido as principais fontes usadas para a versão João Ferreira de Almeida, de 1681.
Os editores de textos gregos do Novo Testamento que servem de base para tradução, buscam apresentar o que consideram representar melhor o texto original (autógrafos) escrito pelos autores bíblicos. E isso eles fazem após dedicada e séria pesquisa em torno das cópias dos manuscritos gregos do Novo Testamento. Esses manuscritos se dividem atualmente em dois grupos ou abordagens teóricas distintas: os bizantinos (c. 90-95% dos manuscritos) e os alexandrinos (c. 1-2% dos manuscritos).[5]
A afirmação de possuir a melhor representação dos textos originais (autógrafos), pode ser constatada nas palavras de seus editores ou nas apresentações dessas edições críticas do texto grego do Novo Testamento.
Os editores do Textus Receptus em sua atual forma declaram:
“A edição atual do Textus Receptus, base da versão de João Ferreira de Almeida, segue o texto da edição de Beza de 1598 como autoridade primordial e correspondente ao Novo Testamento no Grego Original”.[6]
Kurt e Barbara Aland, editores de O Novo Testamento Grego das Sociedades Bíblicas Unidas (base da tradução da versão Nova Almeida Atualizada), chegaram a afirmar que:
“O novo ‘texto-padrão’ passou no teste dos antigos papiros e unciais. Corresponde, de fato, ao texto dos tempos primitivos […] Em nenhum lugar e em nenhum momento encontramos leituras aqui (nos manuscritos mais antigos) que exijam uma mudança no ‘texto padrão’. Cem anos depois de Westcott-Hort, a meta de uma edição do Novo Testamento ‘no original em grego’ parece ter sido alcançada […]. É verossímil que o alvo proposto tenha sido agora atingido: oferecer os escritos do Novo Testamento na forma do texto que mais se aproxima ao que, partindo das mãos de seus autores ou redatores, foi lançado em sua jornada na igreja dos séculos I e II (“The Twentieth-Century Interlude in New Testament Textual Criticism”, em seu Text and Interpretation, p. 14).[7]
Tal perspectiva e convicção textual é reproduzida na introdução da Quinta Edição Revisada de O Novo Testamento Grego das Sociedades Bíblica Unidas:
“Os colchetes duplos dentro do texto indicam que as passagens ali incluídas, geralmente trechos mais extensos, reconhecidamente não fazem parte do texto original, mas foram acrescentados ao texto bíblico num dos primeiros estágios da tradição textual. Tais passagens estão no texto, ainda que entre colchetes duplos, devido à sua antiguidade e ao uso que tradicionalmente se tem feito delas na Igreja cristã.”[8]
Nas páginas de apresentação da Bíblia Nova Almeida Atualiza (NAA), que segue coerentemente a sua base textual grega para a tradução do Novo Testamento, acontece o mesmo:
“Diversos textos no Novo Testamento aparecem entre colchetes. Trata-se de material que se encontra no aparato crítico das edições mais recentes do texto grego, não sendo, portanto, considerado parte do original. Esse material foi mantido no texto da tradução, ainda que entre colchetes, para que o leitor não estranhasse a falta de alguns versículos, pensando inclusive que poderia ter havido uma falha na impressão.”[9]
No prefácio de O Novo Testamento Grego Segundo a Família 35, lemos: “Deus preservou o seu Texto, e ele está em suas mãos.”[10]
Como se percebe, cada edição grega do Novo Testamento afirma representar o texto original (autógrafos). Para que os estudantes e leitores das Escrituras Sagradas possam decidir qual das edições gregas do Novo Testamento é a que mais se aproxima dos originais, e consequentemente a versão bíblica a adotar, é necessário que busque conhecer as principais discussões e publicações em torno do assunto, pois sem isso não terá condições de tomar tal decisão de forma segura.
É certo, que devido às muitas questões envolvidas nas discussões, a unanimidade entre eruditos e leigos está longe de ser alcançada.
Se faz necessário, contudo, da parte de quem decide por uma ou outra edição/versão, que seja o mais coerente possível. Considerar determinada edição grega e versão bíblica como a mais fiel aos originais, implica em pregar e ensinar a Palavra fundamentado nessa escolha.
É importante ressaltar, que em meio a todas essas questões e discussões, nenhuma doutrina central da Bíblia é afetada. A Bíblia continua sendo a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.
No momento, até que novas descobertas arqueológicas de manuscritos gregos do Novo Testamento aconteçam, mudando substancialmente o atual quadro, a minha opção é pela grande tradição textual bizantina, representada atualmente pelo Textus Receptus (Beza-Scrivener), Texto Majoritário (Hodges-Farstad) e O Novo Testamento Grego Segundo a Família 35 (Wilbur N. Pickering).
Em termos de versões bíblicas, seguindo a tradição textual grega bizantina no Novo Testamento, estão a Almeida Revista e Corrigida (Sociedade Bíblica do Brasil), Almeida Revista Fiel (Sociedade Bíblica Trinitariana) e King James 1611 (bvbooks).
[1] COMFORT, Philip W. Manuscritos do Novo Testamento: uma introdução à paleografia e à crítica textual. Tradução de José Ribeiro Neto. São Paulo: Vida Nova, 2022, p.134.
[2] The New Testament: the greek text underlying the english authorised version of 1611. London, England: Trinitarian Bible Society, 2022 (da apresentação).
[3] ALAND, Kurt; ALAND, ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. O texto do Novo Testamento: introdução às edições científicas do Novo Testamento Grego bem como à teoria e prática da moderna crítica textual. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p.6.
[4] The New Testament, ibid.
[5] PICKERING, Wilbur N. O Novo Testamento Grego Segundo a Família 35: texto grego e aparato crítico. Brasília: 2021, p. XII.
[6] The New Testament: the greek text underlying the english authorised version of 1611. London, England: Trinitarian Bible Society, ibid.
[7] COMFORT, Philip Wesley et al. A origem da Bíblia. Tradução de Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 224,225.
[8] O Novo Testamento Grego: quinta edição revisada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica Alemã; Sociedade Bíblica do Brasil, 2019, p. xvii.
[9] Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 3ª ed. (Nova Almeida Atualizada). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2019, p. VII.
[10] PICKERING, ibid., p. XIX.
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