O processo de perversão moral da sociedade e da cultura foi incentivado ao longo dos anos por intelectuais de várias áreas do saber. Tal processo, associado a ataques contra o modelo de família tradicional e à moralidade cristã, e por motivações ideológicas geralmente socialistas, tiveram alguns nomes de destaque.

Entre estes, figura Wilhelm Reich (1897-1957), psiquiatra, sexólogo, psicanalista, biólogo e físico austríaco-americano de ascendência judaica. Com apenas 23 anos, ele foi aceito como membro da prestigiada Sociedade Psicanalítica de Viena, fundada por Freud. Dentre as suas obras, destacam-se “A Função do Orgasmo” (1927) e “A Revolução Sexual” (1930/1936). Autores como Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William S. Burroughs se basearam nas teorias de Reich, lançando as sementes da revolução sexual dos anos 1960.

Discípulo de Sigmund Freud, Reich se afiliou ao partido comunista em 1928, onde tentou unir psicanálise e revolução marxista.[1] Ele se baseou na teoria de que:

“A moral não surgiu em consequência da necessidade de reprimir impulsos socialmente perturbadores, pois já existia antes desses impulsos antissociais. Ela surgiu na sociedade primitiva, de certo interesse de uma camada superior, que se desenvolvia e se tornava economicamente poderosa, de reprimir as necessidades naturais que em si em nada perturbavam a socialidade”.[2]

Alegando que novos “princípios morais” (e para ele salutares) já começavam a fazer parte do processo geral de “desenvolvimento da sociedade”, e que com isso ela se libertaria das repressões sexuais e de suas consequências, Rich relatou e aprovou algumas ideias e práticas “revolucionárias” na área da sexualidade, entre essas:

1 – Masturbação infantil: “A sociedade não autoritária, ao contrária da capitalista e burguesa, ofereceria às necessidades naturais campo completamente livre e garantia para a sua satisfação. […] Não somente não proibiria o onanismo infantil (masturbação ou estímulo sexual, mas impediria energicamente que qualquer adulto pusesse dificuldades ao desenvolvimento sexual das crianças”.[3]

2 – Virgindade feminina: “Há cerca de 15 ou 25 anos, era vergonha para uma moça solteira não ser virgem. Hoje as moças de todos os círculos e camadas sociais – aqui mais, ali menos, aqui mais claramente, ali mais obscuramente – parecem desenvolver a ideia de que é vergonha ser ainda virgem com 18, 20 ou 22 anos”.[4]

3 – Prática sexual entre jovens solteiros: “Se um rapaz de quinze anos quisesse ter relações amorosas (consensuais) com uma menina de treze anos, a sociedade livre não se oporia, e ainda o defenderia e protegeria”.[5]

4 – Sexo antes do casamento: “Há relativamente pouco tempo era considerado contravenção moral, exigindo punição severa, que um casal que pretendia contrair matrimônio se conhecesse sexualmente antes do casamento. Hoje, em amplos círculos, de maneira espontânea, apesar da influência da igreja, da medicina escolástica, filosofias etc., se impõe, cada vez mais o ponto de vista de que é ou pode ser anti-higiênico, imprudente ou desastroso que um homem e uma mulher, que pensam em entrar em relações mútuas duradouras, se liguem permanentemente sem antes terem certificado se combinam também na base de sua vida comunal, isto é, em sua vida sexual”.[6]

5 – Relacionamentos extraconjugais: “As relações sexuais extramatrimoniais, há alguns anos ainda uma vergonha e perante a lei uma “depravação da natureza”, hoje na juventude trabalhista, bem como na da pequena-burguesia alemã, tornou-se uma coisa comum e necessidade vital”.[7]

Para Reich, a “moral” que censura a masturbação e o estímulo sexual infantil, a prática sexual entre adolescentes, a prática sexual antes do casamento e a infidelidade conjugal, é uma moral doentia e promotora do caos social (e sexual) que pretende dominar. Dessa maneira:

“A reforma sexual pretende eliminar irregularidades da vida sexual que no final se encontram arraigadas na maneira de existência econômica e encontram expressão nas doenças mentais dos membros da sociedade. Na sociedade autoritária, aumentam , em conexão com os conflitos econômicos e ideológicos, as contradições entre a moral vigente, que é imposta a toda a sociedade pela classe dominante no interesse da preservação e do fortalecimento do seu poder, e as exigências naturais da sexualidade dos indivíduos isolados em determinada época, levando a uma crise insolúvel no contexto da forma social existente”.[8]

Como se percebe, a moral judaico-cristã (bíblica) é para Reich uma das causas de toda a sorte de mazelas sociais, culturais e econômicas. O pensamento do psicanalista destoa radicalmente de Êxodo 20.14; Dt 5.18; Mt 5.27-30; Lc 18.20; Romanos 1.18-32, 1 Coríntios 5.9-13; 6.18-20; 7.8,9, 2 Co 11.2; Ef 4.17-24; 1 Ts 4.1-5; Tg 2.11; 1 Pe 1.13-16; 2 Pe 2.9-15; Ap 21.15.

É por estes e outros motivos, que é comum nos dias atuais ouvir alguns defensores da “nova moralidade” ou da “velha perversão sexual ideologizada reichiana”, afirmarem que a Bíblia precisa ser reescrita ou ressignificada.


[1] LAJE, Agustin; MARQUEZ, Nicolás. O livro negro da Nova Esquerda. Tradução de Jefferson Bombachim. Curitiba, PR: Livraria Danúbio Editora, 2018, p. 139.

[2] REICH, Wilhelm. A revolução sexual. 4.ed. Tradução de Ary Blaustein. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977, p. 54.

[3] REICH, ibid., p. 56.

[4] REICH, ibid., p. 58.

[5] REICH, ibid., p. 56.

[6] REICH, ibid., p. 58.

[7] REICH, ibid., p. 58.

[8] REICH, ibid., p. 61.

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