O texto grego do qual “aniquilou-se a si mesmo” (Fp 2.7) foi traduzido diz literalmente que ele “se esvaziou”, ou seja, deixou de lado sua glória celestial (Jo 17.5), posição (Jo 5.30; Hb 5.8), riquezas (2 Co 8.9), direitos (Lc 22.27; Mt 20.28) e o uso de prerrogativas divinas (Jo 5.9; 8.28; 14.10). Ele colocou de lado os seus direitos (não a sua divindade), e não os defendeu.[1] Esse esvaziar-se (ekenōsen) importava não somente em restrição voluntária dos seus atributos e privilégios divinos, mas também na aceitação do sofrimento, da incompreensão, dos maus tratos, do ódio e, finalmente, da morte de maldição na cruz.[2] No ato de interromper sua glória divina com o Pai para tomar a forma de servo, o Logos resignou, não a posse, nem o uso total, mas o exercício independente dos atributos divinos.[3]

A posse que Cristo tinha da plenitude divina não foi prejudicada pelo seu auto esvaziamento. Tampouco, quando esvaziou-se a si mesmo, ao assumir a “forma de servo” (morphēn doulou), existiu ele “em forma menos divina”, embora a glória divina ficasse encoberta, exceto para aqueles que tinham olhos para discerni-la (Jo 1.4).[4] Ao assumir a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos, Cristo abriu mão do direito de permanecer confortavelmente onde estava, numa posição de poder. Seu amor levou-o a uma posição de fraqueza em favor da humanidade pecaminosa (2 Co 8.9).[5] Apesar permanecesse em tudo divino, Cristo tomou sobre si uma natureza humana com suas tentações, humilhações e fraquezas, porém sem pecado (Hb 4.15).[6]

O arianismo, entre outras coisas, ensina que: “O Filho não é verdadeiramente Deus”,[7] contudo, é um fato que: “Os escritores do Novo Testamento atribuem divindade a Jesus em vários textos importantes. Em João 1.1, Jesus, como o Verbo, existia como próprio Deus. É difícil imaginar uma afirmação mais clara do que esta acerca da divindade de Cristo. Baseada na linguagem de Gênesis 1.1, eleva Jesus à ordem eterna de existência com o Pai.”[8]

Na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, lemos que: “A Bíblia ensina tanto a divindade como a humanidade de Cristo […] (1 Jo 4.3). A humanidade de Cristo está unida à sua divindade, pois Ele possui duas naturezas, o que está claramente expresso no seu nome Emanuel.”[9]

Concluímos, então, que em sua encarnação e humilhação Cristo não renunciou ou abdicou de sua divindade.


[1] DEMCHUK, David. ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Tradução de Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1292.

[2] STAMPS, Donald (E.). Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p. 1825.

[3] STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. V. II. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 361.

[4] HEWLETT, H. C. Filipenses. In: BRUCE, F. F. Comentário bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. 2. ed. Tradução de Valdemar Kroker. São Paulo: Editora Vida, 2012, p. 1374.

[5] Bíblia de Estudo Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018, p. 2171.

[6] STAMPS, ibid., p. 1825.

[7] HORTON, Stanley (E.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Tradução de Gordon Chow. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 318.

[8] HORTON, ibid., p. 326.

[9] Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 50,51.

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