Iniciaremos com a presente postagem, as comparações entre o texto do Novo Testamento da Almeida Revista e Corrigida (ARC) e da Nova Almeida Atualizada (NAA).
Para você que não acompanhou as postagens iniciais sobre o assunto aqui tratado, sugiro a leitura das partes 1, 2, e 3 já postadas neste blog.
Marcos 9.29 (ARC)
“E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum.”
Marcos 9.29 (NAA)
“Jesus respondeu: — Esse tipo de espírito só pode ser expulso por meio de oração.”
Perceba que a Nova Almeida Atualizada omite a palavra “e jejum”, do grego καὶ νηστείᾳ (kai nēsteía), no final do versículo.
É muito provável que um copista, devido a ênfase dada ao jejum, na Igreja Antiga, tenha acrescentado “e jejum” ao texto, em forma de comentário, que se tornou parte do texto da maioria dos testemunhos (cópias dos originais).[1] Importantes representantes dos tipos de texto alexandrino e ocidental se opuseram a esse acréscimo (Códice Sinaítico e Códice Vaticano).[2]
Para MacArthur, os primeiros manuscritos omitem a palavra “jejum”.[3]
No Comentário de Marcos, de James R. Edwards, o texto de Marcos 9.29 considerado é o que não apresenta a palavra “jejum”: “Na presente instância, os discípulos perguntam por que não conseguiram expulsar o demônio. ‘Essa espécie só sai pela oração’, diz Jesus. Essa é a primeira injunção para a oração no evangelho de Marcos”.[4]
No Comentário Bíblico Vida Nova, lemos: “Em resposta às perguntas dos discípulos, Jesus explicou que parte do custo do reino é oração (à qual alguns manuscritos acrescentaram ‘jejum’, que muitas vezes acompanha a oração fervorosa tanto no AT como no NT)”.[5]
Conforme bem comenta Norman Geisler:
“Outras alterações, ainda que surgidas por causa das boas intenções, têm tido o efeito de acrescentar ao texto algo que não fazia parte do ensino original naquela altura. Talvez isso seja o caso da adição de “jejum” à palavra “oração” em Marcos 9.29 […]. Todavia, nem mesmo aqui o texto é herético. É importante que se ressalte, nesta altura, que nenhuma doutrina cristã baseia-se num texto sob objeção, e todo estudioso do Novo Testamento precisa estar consciente da iniquidade que é alterar um texto simplesmente com base em considerações doutrinárias infundadas”.[6]
O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento (CPAD), faz alusão, mas não comenta sobre o termo “jejum” em Marcos 9.29.[7] O mesmo acontece no Comentário Bíblico Beacon “Problemas do tipo que os discípulos enfrentaram não podem ser expulsos exceto através de uma vida de oração persistente e eficiente”.[8]
O texto “Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum” que aparece na ARC em Mateus 17.21 não consta no Texto Crítico do Novo Testamento, na NAA se encontra em colchetes, como indicação desse fato. Conforme Omanson: “Não existe razão suficiente que poderia ter levado copistas a omitir esse versículo numa variedade tão grande de manuscritos,[9] caso fosse, originalmente, parte do texto de Mateus”.[10]
O relato paralelo de Marcos 9.14-29 feito em Lucas 9.37-43 (ARC e NAA), omite a pergunta dos discípulos e a resposta de Jesus.
A minha conclusão, com base nas evidências e comentários aqui apresentados, até que surjam novas descobertas e estudos, o termo “jejum” não consta no original. Vale lembrar, que a versão Nova Almeida Atualizada (NAA), é reconhecida oficialmente pela CGADB e CPAD. O mesmo acontece com a versão Almeida Revista e Corrigida (ARC).
Àqueles que usarem tais passagens bíblicas em suas preleções, deixo como sugestão explicarem toda a questão aqui tratada. Como as duas versões (ARC e NAA) estão circulando livremente no contexto das Assembleias de Deus no Brasil, tal explicação é extremamente necessária e indispensável.
Lembre-se sempre, que variações textuais como essa aqui exposta, e outras que veremos, em nada compromete a doutrina da inspiração e inerrância das Escrituras Sagradas, nem as doutrinas centrais da fé cristã.
[1] OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento. Tradução de Vilson Scholz. Barueri, SP: SBB, p. 82.
[2] O Novo Testamento Grego. Quinta edição revisada. Barueri, SP. SBB, 2018, p. 125
[3] MACARTHUR, John. Comentário bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Tradução de Eduardo Mano [et al]. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019, p. 1192.
[4] EDWARDS, James R. O comentário de Marcos. Tradução de Helena Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2018, p. 353.
[5] COLE, Alan. Marcos. In: CARSON, D. A. [et al]. Comentário bíblico Vida Nova. Tradução de Carlos E. S. Lopes [et al]. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 1452.
[6] GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. Tradução de Oswaldo Ramos. São Paulo: Editora Vida, 2206, p. 175.
[7] CAMERY-HOGGATT, Jerry. Marcos. In: ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário bíblico pentecostal: Novo Testamento. Tradução de Luís Aron de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 248.
[8] SANNER, A. Elwood. Marcos. In: EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood; CHILDERS, Charles L. Comentário bíblico Beacon: obra original. V. 6. Tradução de Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 280.
[9] O Novo Testamento Grego, ibid., p. 54.
[10] OMANSON, ibid., p. 27.
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