Existe no Brasil um movimento organizado por alguns grupos para a difusão do ecumenismo através da prática acadêmica-ecumênica, que tem como um dos objetivos introduzir no pentecostalismo e nas Assembleias de Deus no Brasil uma mentalidade e práticas ecumênicas, além do diálogo inter-religioso. Tais fatos são de conhecimento público, conforme podem ser constatados nesta breve postagem, e em outras já aqui publicadas.

A diferença entre ecumenismo e diálogo inter-religioso é especificada no site oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB:

“O ecumenismo diz respeito à relação entre igrejas cristãs e, consequentemente, entre cristãos. Literalmente, podemos dizer que ecumenismo significa viver na mesma “casa” respeitando as diferenças. Sabe-se que há algumas divergências quanto à doutrina. Contudo, na prática da fé (caridade) e da solidariedade concreta, podemos nos unir. Isso implica buscar o que nos une e não o que nos separa. Já o diálogo inter-religioso refere-se à relação entre religiões e grupos religiosos. Buscar essa convivência respeitosa é hoje uma regra de ouro, um imperativo moral.”[1]

A proposta declarada é a de uma união de crenças, onde as diferenças doutrinárias precisam ser superadas ou ignoradas. Nesse sentido, a ortopraxia deve estar acima da ortodoxia, e a compreensão de que cada religião contribui com a “sua verdade”, onde o cristianismo apresentaria apenas parte dessa verdade. A salvação se torna possível através das diversas religiões. O pluralismo religioso é dessa forma proposto:

“O pluralismo religioso, por sua vez, prega o abandono da “arrogância” teológica do cristianismo, nega que exista verdade religiosa absoluta, e exalta a experiência religiosa individual como critério último para cada um. A ideia de cristãos tentarem converter pessoas de outra fé ao cristianismo é absurda. O tema da salvação em outras religiões foi discutido recentemente na Assembleia Geral do Concílio Mundial de Igrejas. O relatório apresentado trouxe debate considerável. As conversas se arrastam sem produzir qualquer progresso claro. Uma consulta teológica sobre a salvação na Suíça patrocinada pelo CMI, composta por 25 teólogos, trouxe as seguintes conclusões:

1) Através da história, pessoas tem encontrado a Deus no contexto de várias religiões e culturas diferentes.

2) Todas as tradições religiosas são ambíguas (inclusive o cristianismo), isto é, uma combinação do que é bom e do que é ruim.

3) É necessário progredir além de uma teologia que confina a salvação a um compromisso pessoal explícito com Jesus Cristo.”[2]

O diálogo inter-religioso faz parte dos estudos da Rede Latino-Americana de Estudos Pentecostais (RELEP). O artigo intitulado “Pentecostalismo e diálogo inter-religioso”, de Adriano Sousa Lima[3], afirma que tal diálogo seria necessário devido ao fato do cristianismo não ser portador de toda a verdade, ou seja, a revelação cristã seria inadequada em relação à plenitude da verdade última que está unicamente em Deus. Dessa forma, o pentecostalismo não pode se fechar em certezas definitivas.[4]

Diante de tal cenário, Lima também afirma que a teologia pentecostal “precisa superar desafios, inserindo-se no diálogo com outras tradições religiosas”.[5] Mas tal verdade e certeza não nos são revelados e não estão fundamentados na Bíblia? Ou precisamos ainda das “verdades” do espiritismo, do islamismo, do budismo etc.? A teologia bíblica não é suficiente? Parece que para os defensores do diálogo inter-religioso a resposta é negativa. Para Lima, os princípios do Espírito de Deus, enquanto Mistério, está presente em outras culturas e religiões.[6]

O diálogo inter-religioso se justificaria ainda por ter como objetivo final a plenitude humana, e por ser “uma questão de sobrevivência, de espiritualidade, de vida, de avivamento e de salvação. Fora desse diálogo, não há salvação possível, não há pentecostalismo genuíno”, afirma Lima.[7]

Conforme Alencar, em 2013, David Mesquiati defendeu, na PUC-RJ, sua tese de doutorado em teologia sobre o diálogo entre o ethos pentecostal e as religiões indígenas; em 2016, Adriano Lima, na PUC-PR, também publicou sua tese de doutorado em teologia com o tema: “A pneumatologia como fundamento teológico do diálogo inter-religioso para as Assembleias de Deus no Brasil”; e, em 2017, André Luís da Rosa, apresentou no Programa de Ciências da Religião da Faculdade Unida em Vitória-ES, sua dissertação de mestrado com o tema: “Um novo tempo? O Diálogo Católico Pentecostal no Brasil”.[8]

Diante dos fatos aqui expostos, é necessário que a liderança das Assembleias de Deus no Brasil, em todas as suas instâncias, tomem conhecimento e se unam urgentemente no combate a tais ações, antes que um grave dano doutrinário aconteça.


[1] ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO. Disponível em: https://www.cnbb.org.br/ecumenismo-e-dialogo-inter-religioso-2/, acesso em 6/5/2021.

[2] Ecumenismo. Disponível em: https://www.thirdmill.org/files/portuguese/60974~9_19_01_10-02-54_AM~Ecumenismo.html?fbclid=IwAR2nDmnXjbA7J42o797vVk0voLxHqQfvoJ0zx2c1GcdSbASES19JnaJPGCI, acesso em 6/5/2021.

[3] LIMA, Adriano Sousa. Pentecostalismo e diálogo inter-religioso. In: OLIVEIRA, David Mesquiati (Org.). Pentecostalismos em diálogo. São Paulo: Fonte Editorial/RELEP, p. 2014, p. 35-46.

[4] Ibid., p. 42,43,45.

[5] Ibid., p. 43.

[6] Ibid., p. 45.

[7] Ibid.

[8] ALENCAR, Gedeon Freire. Ecumenismos & pentecostalismos: a relação entre o pescoço e a guilhotina? São Paulo: Editora Recriar, 2018, ibid., p. 18,19.

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

Seja o primeiro a comentar!