Na vida de C. S. Lewis (1898-1963), a influência do ambiente familiar em sua formação literária como leitor e escritor é de fundamental importância.

Em sua autobiografia, Lewis deixa muito evidente a importância e a influência que ambiente familiar exerceu sobre o seu prazer pela leitura:

“Meus pais, pelos parâmetros da época e do local, eram gente letrada, ou “inteligente”. Minha mãe fora uma promissora matemática em sua juventude, bacharel do Queen’s College, de Belfast, e, antes de morrer, ainda conseguiu me encaminhar tanto no francês quanto no latim. Era leitora voraz de bons romances, e acho que os Merediths e os Toltóis que herdei foram comprados para ela. Os gostos do meu pai eram bem diferentes […]. Gostava muito dos romances políticos de Trollope; ao acompanhar o trajeto da personagem Phineas Finn, estava, como hoje suponho, colocando-se imaginariamente no lugar dele e satisfazendo os próprios desejos. Gostava de poesia, desde que ela tivesse elementos de retórica ou paixão, ou ambas; creio que Otelo era sua peça favorita de Shakespeare. Era grande apreciador de praticamente todos os autores cômicos, de Dickens a W.W. Jacobs […]. Mas nem ele, nem minha mãe tinham a menor queda pelo tipo de literatura a que passei a me dedicar desde o momento em que pude escolher eu mesmo minhas leituras. Nenhum deles jamais havia ouvido as trombetas da terra dos elfos. Em casa não havia exemplar algum de Keats ou d Shelley, e o único exemplar de Coleridge jamais foi aberto (que eu saiba). […] O encanto da tradição e a beleza verbal da Bíblia e do Livro de Orações (ambos gostos tardios e adquiridos pela experiência) constituíam o deleite natural de meu pai, e seria difícil encontrar um homem igualmente inteligente que se preocupasse tão pouco com a metafísica.”[1]

Ao descreve a casa onde foi morar, construída em 1905 por seu pai, os livros são citados com grande destaque. Nela havia “livros infindáveis”:

“Meu pai comprava todos os livros que lia e jamais se livrou de nenhum deles. Havia livros no escritório, livros na sala de estar, livros no guarda-roupa, livros (duas fileiras) na grande estante ao pé da escada, livros num dos quartos, livros empilhados até a altura de meu ombro no sótão da caixa d’água, livros de todos os tipos, que refletiam cada efêmero estágio dos interesses de meus pais – legíveis ou não, uns apropriados para crianças e outros absolutamente não.[2]

Lewis tinha livre acesso aos livros, e relata formidavelmente: “Nas tardes aparentemente intermináveis de chuva, eu tirava das estantes volume por volume. Encontrar um livro novo era para mim tão certo quanto é, para um homem que caminha num campo, encontrar uma nova folha na relva”.[3]

Onde estavam todos esses livros antes de mudar para a nova casa, diz Lewis: “é um problema que jamais me ocorreu até eu ter começado a escrever este parágrafo. E não tenho a menor ideia da resposta”.[4]

Seu pai, Albert Lewis, tinha o coração ancorado na leitura de obras literárias.[5] É possível observar em suas cartas o quanto de afinidade havia entre Lewis e seu pai quando o assunto era livros e leituras.

Ao lermos os relatos acima, devemos pensar sobre o quanto é importante que os pais influenciem os seus filhos quanto ao desenvolvimento do hábito de leitura e do amor pelos livros. Tal influência deve ser exercida pelo incentivo verbal, e mais ainda, pelo próprio exemplo.


[1] LEWIS, C. S. Surpreendido pela alegria. Tradução de Eduardo Pereira e Ferreira. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021, p. 14,15,18.

[2] Ibid., p. 20,21.

[3] Ibid., p. 21.

[4] Ibid.

[5] MCGRATH, Alister. A vida de C. S. Lewis: do ateísmo às terras de Nárnia. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2013, p. 33.

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