A Conferência Mundial Pentecostal e o Ecumenismo

A Conferência Mundial Pentecostal, evento evangelístico iniciado em 1947, na Suiça, alterou o seu estatuto em 1990, deixando de ser apenas um evento evangelístico para se tornar uma organização formal e ecumênica, com proximidade com o Vaticano e o Conselho Mundial de Igrejas, já que os membros da CMP e do CMI têm participado dos mesmo eventos.[1]

A atividade ecumênica da Conferência Mundial Pentecostal (CMP) pode ser constatada em seu site oficial https://www.pwfellowship.org/, através de diversos artigos publicados e notícias sobre eventos ecumênicos, conforme abaixo:

https://www.pwfellowship.org/…/local-historic-meeting…

https://www.pwfellowship.org/…/ecumenical-history-under…

https://www.pwfellowship.org/…/gcf-update-bogota…

https://www.pwfellowship.org/…/gcf-media-release-dr…

https://www.pwfellowship.org/…/gcf-press-release-mutual…

https://www.pwfellowship.org/…/global-conference-of…

https://www.pwfellowship.org/news/70-years-of-the-world-council-of-churches

A presente informação ainda é pouco disseminada e conhecida entre os pastores assembleianos no Brasil.

A 24ª Conferência Mundial Pentecostal foi realizada no período de 7 a 10 de setembro de 2016, nas dependências do novo templo da Assembleia de Deus do Belém, com a presença de um representante oficial do Vaticano, o Padre Marcial Marceneiro, membro da Comissão Internacional de Diálogo Católico-Pentecostal (CICCP). Em nenhuma reunião ele foi apresentado. A única vez que a palavra ecumenismo foi mencionada no evento foi de forma negativa.[2] O evento foi anunciado na época no portal CPAD News da seguinte forma:

O Pentecostal World Fellowship (PWF) é um órgão cooperativo de igrejas e grupos pentecostais em todo o mundo de comum acordo. Não é um órgão legislativo de uma entidade nacional, mas é uma coalizão de comprometimento com o avanço do Evangelho até os confins da Terra. O Pentecostal Fellowship organiza uma celebração trienal: a Conferência Mundial Pentecostal (CMP) Um evento que reúne a família pentecostal de todo o mundo para trabalhar no avanço da missão e propósitos do Pentecostal Fellowship.

Neste ano, a 24ª edição da Conferência Mundial Pentecostal acontecerá na cidade de São Paulo, entre os dias 7 e 10 de setembro. O evento teve início, em maio de 1947, quando os pastores suíços Leonard Steiner, David J. du Plessis, J. Roswell, Flor e Donald Gee organizaram uma conferência para líderes pentecostais. Três mil pessoas participaram nesta primeira conferência. Depois, conferências trienais se seguiram e, em 1961, este encontro celebrativo foi nomeado oficialmente de Conferência Mundial Pentecostal (CMP). As CMP’s, desde 1947, foram realizadas em Zurique, na Suíça; Londres (Inglaterra); Dallas (EUA); Vancouver (Canadá); Jerusalém (Israel); Estocolmo (Suécia); entre outras.

Em 1967, pela primeira vez, o Brasil hospedou o evento, sob o tema, “O Espírito Santo Glorificando a Cristo”. Deu-se na cidade do Rio de Janeiro, onde mais de 5 mil pessoas reuniram-se durante três noites, no Estádio do Maracanã. Sob a direção do pastor local do Rio de Janeiro, Paulo Leivas Macalão, o evento até hoje é considerado um marco das igrejas pentecostais brasileiras. Agora, o Brasil novamente terá a oportunidade de receber a CMP, sob o tema “Pentecostes Chama Viva”.[3]

A festa de encerramento aconteceu no dia 11 de setembro, no Campo de Marte em São Paulo com cerca de 200 mil pessoas presentes.[4]

É muito provável que a liderança da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) não tivesse na época conhecimento das mudanças ocorridas na Conferência Mundial Pentecostal. A posição da CGADB e da sua liderança é oficialmente contrária à prática ecumênica.

A questão ecumênica esteve em pauta na Convenção Geral de 1962, onde ao final das discussões foi proposta uma nota de repúdio ao ecumenismo, a ser publicada no jornal Mensageiro da Paz, voltada para os assembleianos, e que deveria ter o caráter de instruí-los a não aderirem ao ecumenismo.[5] Em 1985 o tema foi novamente abordado.[6] Além disso, o atual Estatuo da CGADB em seu Art. 9°, inciso II, afirma que é vedado aos membros da CGADB “vincular-se a qualquer movimento ou instituição que contrarie os princípios adotados pela IEAD”.[7]

A posição não ecumênica das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) é evidenciada também, através dos artigos publicados em seus periódicos oficiais e no portal CPAD News.

No Dicionário Teológico, escrito pelo pastor Claudionor de Andrade, lemos:

Inicialmente, o ecumenismo era a concretização do ideal apostólico de agregação de todos os que professavam o nome de Cristo. Com o passar dos tempos, porém, a palavra foi sendo desvirtuada até ser tomada como um perfeito sinônimo para o sincretismo religioso. Os que buscam semelhante universalidade, pregam a união indistinta entre protestantes, católicos, judeus, espíritas, budistas etc. Tal união é contrária ao espírito das Sagradas Escrituras, pois tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são exclusivistas em matéria de fé e prática. O ecumenismo, hoje, tornou-se numa das maiores bandeiras da Igreja Católica Romana que, logicamente, reivindica que todos se abriguem sob a égide papal.[8]

No artigo “Atanásio Contra o Mundo, em Defesa da Sã Doutrina”, publicado no CPAD News, o pastor Claudionor de Andrade também afirma:

O ecumenismo que, a princípio, era denominacional e evangélico e, logo depois “cristão”, algemando católicos e protestantes, evoluiria para o monoteístico e abraâmico, incluindo o Judaísmo e o Islamismo, nivelando-os ao Cristianismo. Agora, já não disfarça suas pretensões pan-religiosas. A esse ecumenismo, vem aderindo partes consideráveis da pentecostalidade acadêmica brasileira e mundial. Um ecumenismo, aliás, esquerdista, ecológico e anticristão. Se não vigiarmos, os compromissos inter-religiosos impedir-nos-ão de levar o Evangelho de Cristo até aos confins da terra. Somos contra as guerras e os entreveros religiosos. No entanto, não podemos deixar de proclamar o Evangelho de Cristo a todas as nações. Que jamais nos submetamos aos caprichos do globalismo, do pós-modernismo e da agenda do Anticristo.[9]

Na obra Seitas e Heresias, do pastor Raimundo F. de Oliveira, lemos:

O ponto mais alto da questão ecumenista proposta pela Igreja Romana, consiste num problema de duplo aspecto: 1) Que as igrejas protestantes e Ortodoxas se lembrem de terem deixado o catolicismo, pelo que devem voltar ao seio da “Igreja-mãe”. 2) Que se submetam à orientação do papa de Roma como “único pastor”. Evidentemente, para os protestantes e para a Igreja Ortodoxa, aceitar a política ecumênica do Vaticano significa a perda de identidade e a renúncia de muitos séculos de luta contra: o predomínio católico-romano, a adoração das imagens de escultura, a pretensa infalibilidade papal e demais hábitos e crenças pagãs do catolicismo romano. […] Cremos que o Concílio Mundial de Igrejas, com a sua política ecumenista, está sendo instrumento de Satanás para levantar na Terra uma superigreja que, após o arrebatamento da verdadeira e triunfante Igreja, dará suporte espiritual ao governo do Anticristo, da Besta e do Falso Profeta, durante a Grande Tribulação.[10]

O pastor Abraão de Almeida, em seu livro “Teologia Contemporânea”, declara:

Modernamente, “ecumênico” está intrinsecamente ligado à busca da unidade cristã, em sentido ativo, apontando para uma igreja visível e organicamente unida. Dentro desta definição, o movimento ecumênico está hoje presente e atuante em toda a terra. E de todas as entidades chamadas ecumênicas, nenhuma outra sobrepujou ao Conselho (ou Concílio) Mundial de Igrejas — CMI — para o qual pretendemos chamar a atenção do leitor. O assunto é atualíssimo e muito sério, digno de ser cuidadosamente analisado à luz da Palavra de Deus. Não há dúvida de que, de todas as armas já utilizadas por Satanás no preparo da intromissão do Anticristo, o ecumenismo segundo o modelo do CMI é uma das mais eficientes, pelas consequências desastrosas que traz à igreja evangélica. Mas as portas do inferno não prevalecerão contra a Noiva do Cordeiro. “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (2 Tm 2.19).[11]

No artigo intitulado “O Ecumenismo Religioso e o Jugo Desigual”, o pastor Ciro Zibordi afirma:

O ecumenismo aparenta ser um bom caminho, em razão de pregar a tolerância à diversidade religiosa e a oposição a quem defende uma verdade exclusiva. No entanto, isso tem como objetivo calar os pregadores da Palavra de Deus. O ecumenismo se baseia no princípio “democrático” de que cada pessoa deve guardar a sua verdade contundente para si e prioriza, supostamente, o amor ao próximo e as “verdades” inofensivas. Lembremo-nos de que o Senhor Jesus asseverou que não existe unidade motivada pelo amor divorciada da verdade da Palavra: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. […] Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo 14.15-24).[12]

Na coluna Universo Cristão do CPAD News, o artigo “Pastores evangélicos se reúnem com Papa para dialogar sobre o cristianismo”, diz:

De acordo com uma pesquisa feita pela LifeWay Research, 40% dos pastores protestantes americanos afirmam ter uma visão mais positiva sobre a Igreja Católica depois da liderança do pontífice argentino. Para Ed Stetzer, diretor da LifeWay, observar o apoio ao papa vindo de pastores protestantes, que surgiram após a Reforma Protestante, é algo contraditório. “A pesquisa mostra, de fato, o resultado do ‘Efeito Francisco’, já que ele é apoiado pelo grupo de pessoas nomeadas para protestar contra a própria fé conduzida pelo papa.” “Os precursores dos atuais pastores protestantes — Lutero, Wesley, Spurgeon e muitos outros — certamente não veriam o papa como seu ‘irmão em Cristo’. Dentro de alguns séculos, o papa passou de ‘anti-Cristo’ para ‘irmão em Cristo’ para muitos protestantes”, alertou Stetzer. De acordo com o pastor Bruno dos Santos, o movimento ecumênico promovido pelo pontífice apresenta mensagens de tolerância, paz e humanidade, mas é contrário ao governo de Jesus Cristo. “No ecumenismo, Jesus Cristo perde a sua posição de Cabeça da Igreja, pois o Vaticano diz que a mãe de todas as igrejas cristãs é a Igreja Católica Romana e que o seu cabeça é o Papa. Ele pode mudar até o que Jesus e seus apóstolos ensinaram”, explica o pastor. “O ecumenismo depõe da posição de Cristo como única fonte de salvação. Se uma igreja que crê e prega que só a Fé em Cristo é que salva, misturar-se a outra que crê e prega que algo mais é necessário para ‘completar, assegurar ou garantir’ a salvação, como poderão conciliar posições tão distintas?”, questiona.[13]

Na obra “Defendendo o Verdadeiro Evangelho”, escrita por José Gonçalves, lemos:

O “Cavalo de Troia” como ficou mundialmente conhecido, era um grande cavalo feito de madeira. Os gregos que tinham a intenção de conquistar Troia foram aconselhados por Ulisses a fazer esse grande cavalo e mandá-lo de presente para Troia. Dentro do “presente dos gregos” estavam muitos guerreiros, que dessa forma podiam se infiltrar entre os troianos e surpreendê-los. Está claro que o ecumenismo pretendido pelo romanismo não passa de uma “Operação Cavalo de Troia”, na versão religiosa […]. A tradição protestante sempre rejeitou qualquer pretensão a um suposto ecumenismo encabeçado pela igreja de Roma. Já ficou demonstrado que a unidade da igreja em épocas passadas era buscada através da força, mas agora os tempos são outros. O discurso e as estratégias do romanismo em busca da unidade se aperfeiçoaram também. As decisões agora não são mais verticalizadas, mas horizontalizadas, isto é, procura-se estabelecer um diálogo com os antigos hereges, e o caminho mais curto para isso é o do ecumenismo.[14]

Esequias Soares, ao comentar a Lição Bíblica de Jovens e Adultos do 2º Trimestre de 2002 (Lição 9, O Perigo do Sincretismo Religioso), diz acerca do ecumenismo:

Concordamos com a unidade da Igreja, desde que genuinamente cristã, e isso é bíblico (Jo 17.21; Ef 3.4,5). Como podemos comungar com um evangelho que foi rejeitado pelos reformadores? O apelo dramático da Reforma Protestante de Sola Scriptura, Sola Gracia, Solo Cristus e Sola Fides para o retorno às Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática, agora é desfeito em cinzas com o CMI (Conselho Mundial de Igrejas). Isso se chama união de igrejas ou retorno ao catolicismo romano? Esta é apenas uma das razões porque não aderimos e nem apoiamos o movimento.[15]

O pastor Antonio Gilberto, em artigo publicado no portal CPAD News, intitulado “A Religião e as Filosofias Anticristãs”, onde o ecumenismo é listado como um dos perigos que os obreiros precisam conhecer para evitar o pior, o conceitua como: “Movimento religioso, liberal e modernista, que visa unificar todas as igrejas e denominações. O movimento ecumênico é impulsionado pelo Concílio Mundial de Igrejas, fundado em 1948 em Amsterdã, Holanda. Tem sua sede atualmente em Genebra, Suíça”.[16]

E ainda, no artigo “Os Perigos da Secularização nas Igrejas”, também publicado no CPAD News, diz:

O fermento na Bíblia representa a corrupção espiritual, agindo ocultamente na massa do povo. A Bíblia fala da corrupção doutrinária (1Tm 4.1), da corrupção no culto, inclusive no louvor e na adoração, como nos dias do Antigo Testamento, e da corrupção no ministério. Alguns exemplos de hoje são a igreja ecumênica, o culto ecumênico, a bíblia ecumênica, o ministério ecumênico etc.[17]

Se diante dos fatos aqui expostos a CGADB manterá seu vínculo fraternal com a Conferência Pentecostal Mundial (https://www.pwfellowship.org/conference), ainda não sabemos. Acredito que tal questão será discutida no nível intrainstitucional em breve.

A 26ª edição da Conferência Pentecostal Mundial (agora também ecumênica) está programada para ser realizada de 12 a 14 de outubro de 2022, em Seoul, na Coréia do Sul.[18]


[1] ALENCAR, Gedeon Freire de. Ecumenismos & pentecostalismos: a relação entre o pescoço e a guilhotina. São Paulo: Editora Recriar, 2018, p. 161.

[2] Ibid., p. 162.

[3] Disponível em: https://cpadnews.com.br/universo-cristao/35561/sao-paulo-recebe-a-24%C2%AA-edicao-da-conferencia-mundial-pentecostal.html, e https://cpadnews.com.br/assembleia-de-deus/35799/conferencia-mundial-pentecostal-comeca-em-sao-paulo-com-grande-festa.html , acesso em 06/10/2021. 

[4] Disponível em: https://www.expositorcristao.com.br/24-conferencia-mundial-pentecostal-contou-com-presenca-de-bispos-da-igreja-metodista, acesso em 06/10/2021.

[5] DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 342,343.

[6] Ibid., p. 507.

[7] Disponível em: http://cgadb.org.br/wp-content/uploads/2021/05/Consolidac%CC%A7a%CC%83o-do-Estatuto-Social-da-Convenc%CC%A7a%CC%83o-Geral.pdf, acesso em 06/10/2021.

[8] ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p.132.

[9] Disponível em http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/141/atanasio-contra-o-mundo-em-defesa-da-sa-doutrina.html?fbclid=IwAR1DyQ8T-at3UiPLd5FGdSDwId0CPPPwhInaaRo8kzl7c5HDyOS95gpOjoA

[10] OLIVEIRA, Raimundo F. de. Seitas e heresias: um sinal do tempos. 22. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p.246-251.

[11] ALMEIDA, Abraão. Teologia Contemporânea (p. 179). CPAD. Edição do Kindle.

[12] ZIBORDI, Ciro Sanches. O Ecumenismo Religioso e o Jugo Desigual. Disponível em: http://www.cpadnews.com.br/, acesso em 9/5/2021.

[13] Pastores evangélicos se reúnem com Papa para dialogar sobre o cristianismo. Disponível em: http://www.cpadnews.com.br/universo-cristao, acesso em 9/5/2021.

[14] GONÇALVES, José. Defendendo o verdadeiro evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 125,126,133.

[15] SOARES, Esequias. Lições Bíblicas Jovens e Adultos: Oséias: a restauração dos filhos de Deus. 2º Trimestre. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 67

[16] Disponível em http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/5/a-religiao-e-as-filosofias-anticristas-(1%C2%AA-parte).html?fbclid=IwAR0AT0baEwUsEYBxrNUf2GkQ_CbfnyQZccWsuYsDaRVJhRE4oAPOyToTBoQ

[17] Disponível em http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/27/os-perigos-da-secularizacao-nas-igrejas-(2%C2%AA-parte).html?fbclid=IwAR2ZLd9UlnfBUt3GxcDw0hSTHh1acHjEkLxPyNGjpD1oRH4NMiNJLQmI8d8

[18] Disponível em: https://www.pwfellowship.org/conference , acesso em 06/10/2021.

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