Em primeiro lugar, de qual pentecostal estamos falando? Dos novos convertidos, dos crentes maduros não instruídos teologicamente, dos crentes maduros instruídos teologicamente, dos obreiros não instruídos teologicamente ou dos obreiros instruídos teologicamente?
Dependendo da resposta, os métodos de interpretação bíblica adotados pelos pentecostais podem variar, podendo ser uma interpretação alegórica, pragmática ou prática, chegando até a uma interpretação dentro dos padrões hermenêuticos científicos.
Os pentecostais clássicos e ortodoxos acreditam na autoridade, inerrância e infalibilidade das Escrituras.Os métodos hermenêuticos utilizados pelos primeiros pentecostais clássicos e ortodoxos já estavam em uso antes do início do movimento, e isto por razões óbvias. Os pioneiros pentecostais são herdeiros históricos da Reforma e dos diversos movimentos de restauração (pietismo, metodismo, batistas etc), que viam na vida da igreja primitiva em Atos um padrão paradgmático.
Dentre os métodos utilizados pelos primeiros pentecostais instruídos teologicamente, estavam o histórico-gramatical e a análise narrativa em sua forma mais simples (mesmo que intuitivamente), o que fez com que o padrão de repetições das línguas em Atos fosse considerado com paradigma normativo, resultando na doutrina da evidência inicial do batismo no Espirito Santo, formalizada por Charles Fox Parham.
Dessa forma, em primeiro lugar, é preciso mais uma vez deixar claro que o pentecostalismo não criou um novo método hermenêutico.Em segundo lugar, em razão da diversidade das realidades pentecostais citadas no início desse texto, não há uma “uniformidade” hermenêutica no pentecostalismo clássico.Em terceiro lugar, tanto os primeiros, quanto os atuais pentecostais clássicos possuem em comum a crença no batismo no Espírito Santo como experiência distinta da regeneração e na atualidade de todos os dons espirituais, mesmo que nem todos os pentecostais já tenham tido a referida experiência e divirjam quanto a evidência inicial.
Sendo assim, temos pentecostais com a experiência do batismo no Espirito Santo (a maioria) e sem a experiência do batismo no Espirito Santo.Sendo assim, o que seria de fato uma “hermenêutica pentecostal” diante de tantas variantes e das realidades aqui expostas? Em minha opinião, com base na alegação de que a expressão “hermenêutica pentecostal” tem haver com pressupostos, metodologias e experiências distintivas (batismo no Espírito Santo e atualidade de todos os dons espirituais) o termo teria que ser pluralizado para “hermenêuticas pentecostais” (hermenêutica dos pentecostais instruídos e dos não instruídos teologicamente).
Por fim, em razão da indefinição que a pluralização do termo naturalmente produziria, prefiro continuar usando “hermenêutica bíblica” ou “interpretação bíblica”, para identificar a interpretação das Escrituras no universo pentecostal clássico ortodoxo e assembleiano brasileiro.
A contribuição dos pentecostais e dos seus precursores para a hermenêutica bíblica é indiscutível.Para uma leitura sobre os métodos hermenêuticos adotados pelos pentecostais sugiro:
– James H. Railey Jr.; Benny C. Aker. Fundamentos teológicos. In: Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Stanley M. Horton. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 56-62.
– Craig S. Keener. A hermenêutica do Espírito: lendo as Escrituras à luz de Pentecostes. São Paulo: Vida Nova, 2018, p. 230-231.
– Donald Johns. Novas diretrizes hermenêuticas na doutrina da evidência inicial do pentecostalismo clássico. In: Gary McGee. Evidência inicial. Natal, RN: Carisma, 2017, p. 191-215.- Gary McGee. A antiga hermenêutica pentecostal: línguas como evidência no livro de Atos. In: Gary MacGee. Evidência inicial. Natal, RN: 2017, p. 129-154.
– Robert H. Stein. Guia básico para a Interpretação da Bíblia: interpretando conforme as regras. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
– Raimundo de Oliveira. Como estudar e interpretar a Bíblia: um método que permite à Bíblia falar por si mesma. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.
– Esdras Costa Bentho. Hermenêutica fácil e descomplicada. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 55-91.- Anthony Palma. O Batismo no Espírito Santo e com Fogo. Rio de Janeiro: 2002, p. 12,13 e 56.
– José Gonçalves. Defendendo o Verdadeiro Evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 211-218.- Roger Stronstad. A Teologia Carismática de Lucas. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.13-30).
– Altair Germano. Interpretando as Narrativas Bíblicas. Joinville: Santorini, 2020.- Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 29.
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