Para os editores do Textus Receptus, base da tradução da Bíblia Almeida Revista e Corrigida (ARC), a resposta para a questão acima é sim.

Para os editores de “O Novo Testamento Grego”, base da tradução da Bíblia Nova Almeida Atualizada (NAA), a resposta é não.  É em razão disso, que O Novo Testamento Grego (Quinta Edição Revisada, SBB) e a versão Nova Almeida Atualizada colocam o texto de Marcos 16.9-20 entre colchetes.

Na apresentação de O Novo Testamento Grego (Quinta Edição Revisada), lemos:

“Os colchetes duplos dentro do texto indicam que as passagens ali incluídas, geralmente trechos mais extensos, reconhecidamente não fazem parte do texto original, mas foram acrescentados ao texto bíblico num dos primeiros estágios da tradição textual. Tais passagens estão no texto, ainda que entre colchetes duplos, devido à sua antiguidade e ao uso que tradicionalmente se tem feito delas na Igreja cristã.” (p. xvii)

A Bíblia Nova Almeida Atualizada (NAA), em sua apresentação, afirma igualmente que:

“Diversos textos no Novo Testamento aparecem entre colchetes. Trata-se de material que se encontra no aparato crítico das edições mais recentes do texto grego, não sendo, portanto, considerado parte do original. Esse material foi mantido no texto da tradução, ainda que entre colchetes, para que o leitor não estranhasse a falta de alguns versículos, pensando inclusive que poderia ter havido uma falha na impressão.” (p. VII)

Alguns comentários bíblicos também reproduzem a ideia de que Marcos 16.9-20 não fez parte do texto original. No Comentário Bíblico Pentecostal (CPAD) lemos que: “É bem sabido que o fim de Marcos é questão de disputa. Neste comentário, terminamos o Evangelho com o versículo 8, com a explicação de que ‘os manuscritos mais antigos e fidedignos e outras antigas testemunhas não têm Marcos 16.9-20’.” (p. 296, 297)

Na nota de rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global (CPAD), editada por Donald C. Stamps, ao contrário daquilo que se encontra no Comentário Bíblico Pentecostal (CPAD), temos uma defesa da originalidade de Marcos 16.9-20:

“Embora os vv. 9-20 não apareçam nos dois mais antigos manuscritos gregos, aparecem em outros manuscritos antigos, incluindo os que foram usados na compilação do Novo Testamento, assim como na maioria dos manuscritos gregos de todo o mundo antigo. Muitos estudiosos e peritos concluíram que é provável que qualquer parte do texto incluído na maioria dos antigos manuscritos seja parte da escrita original do autor bíblico. O conteúdo desta passagem certamente representa o testemunho, a crença e a experiência autêntica da igreja primitiva. Corretamente interpretados, nada nestes versículos contradizem outras partes da Palavra de Deus. Por estas razões, os vv. 9-20 devem ser considerados parte da Palavra inspirada de Deus, que possui a sua autoridade.” (p. 1745)

As páginas seguintes da Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global trazem um artigo intitulado “Sinais dos Crentes”, com base em Marco 16.17-18 (p. 1746 e 1747), autenticando igualmente a originalidade desse texto.

Stanley M. Horton, outro renomado teólogo assembleiano, também endossa a originalidade de Marcos 16.9-20. Em seu livro “O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo” (CPAD, 1999), ao falar sobre “sinais”, escreve:

“São, simplesmente, sinais que seguem os cristãos os quais crerem suficientemente para obedecer o mandamento de pregar o Evangelho a toda criatura, conforme indica Marcos 16.20. (Não estamos olvidando o fato que há críticos modernos os quais lançam dúvidas sobre os 12 últimos versículos de Marcos). Há, no entanto, evidências que são muito antigas, e não há razão porque o próprio Marcos não os tivesse escrito. De qualquer maneira, tudo quanto esses versículos dizem está em harmonia com o restante do Novo Testamento” (p. 122)

Da mesma forma, na obra “Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal” (CPAD, 2008), editada por Stanley M. Horton, lemos: “Marcos 16.15 também registra esse mandamento: ‘Tendo ido por todo o mundo, proclamem [anunciem, declarem e demonstrem] as boas novas a toda a criação’ (tradução literal)” (p. 584). Mais uma vez, a originalidade de versículos presentes no final longo de Marcos é reconhecida.

Além disso, comentaristas de Lições Bíblicas da CPAD reconhecem a originalidade de Marcos 16.9-20 ao fazerem uso de versículos presentes nessa passagem. Por exemplo:

– Na Lição 3 do 2º Trimestre de 1965, intitulada “Boas Novas (Ressurreição), o pastor João de Oliveira cita Marcos 16.1-16 nas Leituras Diárias e na Leitura da Lição (Leitura Bíblica em Classe). Todo o comentário da lição está fundamentado em Marcos 16.1-18.

– Na Lição 2 do 1º Trimestre de 2007, intitulada “Evangelização – A missão máxima da Igreja”, o pastor Elienai Cabral usa como texto áureo Marcos 16.15, e na Leitura Bíblica em Classe utiliza Marcos 16.15-18.

– Na Lição 1 do 3º Trimestre de 2016, intitulada “O que é evangelização”, o pastor Claudionor de Andrade utiliza Marcos 16.9-20 na Leitura Bíblica em Classe.

– Na Lição 1 do 4º Trimestre de 2023, intitulada “A grande comissão: um enfoque cristocêntrico, o pastor Wagner Gaby utiliza Marcos 16.15-18.

Em seu livro “A Bíblia Através dos Séculos” (CPAD, 1992), o pastor Antonio Gilberto (1927-2018) fez o seguinte comentário sobre a versão Almeida Revista e Atualizada (atual NAA):

“É uma obra magnífica com linguagem qualificada e de melhor tradução. […] Foi usado o texto grego de Nestle para o NT, e o hebraico de Letteris, para o AT. Fez-se o melhor possível. Há uma comissão permanente de revisão acompanhando os progressos da crítica textual.” (p. 121,122 da atual edição de 2019)

É importante considerar, que quando o pastor Antonio Gilberto fez essas declarações, a versão Almeida Revista e Atualizada (atual NAA) não trazia em sua apresentação a negação da originalidade de Marcos 16.9-20, e em algumas impressões, como a que tenho em mãos (Bíblia da Liderança Cristã, Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p. 1008,1009), não colocava o texto de Marcos 16.9-20 entre colchetes.

Além disso, na Bíblia com Comentários de Antonio Gilberto (CPAD, 2021), cuja versão utilizada é a Almeida Revista e Corrigida (ARC), o pastor Antonio Gilberto cita Marcos 16.15 ao escrever sobre “Evangelização” (p. 1340), e toma esse versículo por base (ao lado de Atos 1.8; Jonas 3.1-8 e Mateus 28.19) ao escrever sobre “O Avivamento e a Obra Missionária” (p. 1519,1520), além de trazer um comentário com o título “A promessa pentecostal é valiosa”, com base em Marcos 16.17-18 e Atos 2.43b. Tais citações pressupõem a crença do pastor Antonio Gilberto na originalidade desses versículos.

Como pentecostais assembleianos, devemos seguir qual das duas posições? A que dá sustentação a originalidade de Marcos 16.9-20, conforme o Novo Testamento da Almeida Revista e Corrigida (ARC) ou a posição defendida pela Nova Almeida Atualizada (NAA), que nega a originalidade dessa passagem bíblica? Seguimos o Comentário Bíblico Pentecostal, ou seguimos a nota de rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global e a Bíblia com Comentários de Antonio Gilberto?

No caso de Marcos 16.9-20 (final longo), após estudar e pesquisar amplamente sobre essa questão textual, fico com a posição da Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global, da Bíblia com Comentários de Antonio Gilberto e com a versão bíblica Almeida Revista e Corrigida (ARC).

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