Não há muitas informações sobre a vida de Inácio. Eusébio afirma que ele fora o segundo bispo de Antioquia, enquanto Jerônimo o coloca como o terceiro, após Pedro.[1] De acordo com a tradição, foi conduzido da Síria a Roma, durante o reinado do imperador Trajano, ao martírio. Durante essa viagem teria escrito sete cartas, quatro de Esmirna e três de Trôade.[2] As sete cartas foram: Aos efésios, Aos magnésios, Aos tralianos, Aos romanos, Aos filadelfienses, Aos esmirniotas e A Policarpo. A autenticidade das sete cartas de Inácio, segundo os pesquisadores e historiadores, é comprovada por suas menções nos escritos de Policarpo, Irineu, Orígenes e Eusébio.[3] Em suas cartas temos várias citações sobre o Espírito Santo.

Para Inácio, a unção do Espírito exala a incorruptibilidade da igreja e fortalece a esperança da vida futura:

Por isso, o Senhor recebeu unguento sobre a cabeça, a fim de exalar a incorruptibilidade para a sua Igreja. Portanto, não vos deixeis ungir com o mau odor do príncipe deste mundo, para que não os leve prisioneiros, longe da vida que vos espera. Por que não nos tornamos todos sábios, recebendo o conhecimento de Deus, que é Jesus Cristo? Por que pereceremos loucamente, desconhecendo o dom que o Senhor verdadeiramente enviou?[4]

Em sua saudação inicial aos cristãos esmirniotas, Inácio destaca a operação plena dos dons na igreja em Esmirna:

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e de seu Filho amado Jesus Cristo, que obteve por misericórdia todos os dons, repleta de fé e amor, à qual não falta nenhum dom, caríssima a Deus, portadora dos objetos sagrados, que está em Esmirna, na Ásia, as melhores saudações, no Espírito irrepreensível e na palavra de Deus.[5]

Na conclusão da carta aos esmirniotas, Inácio lhes deseja que passem bem na força do Espírito.[6]

Numa carta que Inácio escreveu a Policarpo de Esmirna, ele diz: “Em todas as coisas, sê prudente como serpente e sempre simples como pomba, pois és carnal e espiritual para tratar com afabilidade as coisas que aparecem diante de ti. Quanto às coisas invisíveis, pede que elas sejam manifestadas a ti, para que nada te falte e tenhas abundância em toda graça[7] (ou dons espirituais).[8]

Escrevendo aos filadelfienses, o dom de profecia é citado por Inácio nos termos abaixo:

Alguns quiseram me enganar segundo a carne, mas não se engana o espírito que vem de Deus. De fato, ele sabe de onde vem e para onde vai, e revela os segredos. Estando no meio de vós, gritei, disse em alta voz, uma voz de Deus: ‘Permanecei unidos ao bispo, ao presbitério e aos diáconos!’ Aqueles suspeitaram que eu disse isso porque previa a divisão de alguns, mas aquele pelo qual estou acorrentado é minha testemunha de que eu não o sabia através da carne. Foi o Espírito que me anunciou (ou proclamou através de mim), dizendo: “Não façais nada sem o bispo, guardai vosso corpo como templo de Deus, amai a união, fugi das divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também o é do seu Pai.”[9]

Outras revelações ou possibilidades dessas foram registradas por Inácio:

Se Jesus Cristo me tornar digno, graças às vossas orações, e se for da vontade de Deus, eu vos explicarei, em segundo livrinho que devo escrever-vos, a economia da qual comecei a vos falar, a respeito do homem novo, Jesus Cristo. Ela consiste na fé nele e no amor por ele, no seu sofrimento e ressurreição. Sobretudo se o Senhor me revelar que cada um e todos em conjunto, na graça que provém do seu nome, vos reunireis na mesma fé em Jesus Cristo da descendência de Davi segundo a carne, filho de homem e filho de Deus, para obedecer ao bispo e ao presbitério, em concórdia estável, partindo o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre.[10]

Por essas razões, Inácio é considerado para alguns estudiosos da Patrística como um profeta-bispo.[11]

Fonte: pentecostalismo.com


[1] Apostólicos, Padres. Patrística – Padres Apostólicos – Vol. 1: Clemente Romano | Inácio de Antioquia | Policarpo de Esmirna | O pastor de Hermas | Carta de Barnabé | Pápias | Didaqué (Portuguese Edition) (p. 73). Paulus Editora. Edição do Kindle.

[2] EUSÉBIO DE CESAREIA. História eclesiástica: os primeiros quatro séculos da Igreja cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 113-114.

[3] ALTANER, B.; STUIBER, A. Patrologia: vida, obras e doutrina dos padres da Igreja. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1988, p. 58.

[4] Inácio aos efésios, in: Padre apostólicos, ibid., p. 87.

[5] Inácio aos esmirniotas, in: Padres apostólicos, ibid., p. 115.

[6] Ibid., p. 120.

[7] Inácio a Policarpo, in: Padres apostólicos, ibid., p. 121,122.

[8] Ignace d’Antioch: Lettres, ed. P. Th Camelot (Sources chrétienne, 10) (4.ed., Paris: (Cerf, 1969), p. 148 apud Ignace d’Antioch: Lettres, ed. P. Th Camelot (Sources chrétienne, 10) (4.ed., Paris: (Cerf, 1969), p. 148 apud KYDD, Ronald. A continuidade dos dons espirituais na igreja primitiva: uma análise dos dons do Espírito durante os primeiros três séculos da igreja cristã. Tradução de Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p. 30.

[9] Inácio aos filadelfienses, in: Padres apostólicos, ibid., p. 112.

[10] Inácio aos efésios, in: Padres apostólicos, ibid., p. 88,89.

[11] KYDD, ibid., p. 33.

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