Myer Pealman (1898-1943) foi um educador, teólogo e escritor pentecostal norte-americano. Ele formou-se em teologia no Central Bible Institute, Springfiel, Missouri, EUA.

Ele é autor da obra “Conhecendo as Doutrinas da Bíblia”, lançada nos Estados Unidos em 1937, traduzida e publicada no Brasil em 1959, pelo missionário Lawrence Olson. O livro “Conhecendo as Doutrinas da Bíblia” foi adotado como livro-texto da matéria Teologia Sistemática, no Instituto Bíblico Pentecostal (IBP), no Rio de Janeiro; no Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (IBAD), em Pindamonhangaba (SP), e por outras instituições teológicas fundadas nos anos seguintes “forjando o pensamento bíblico e teológico de mais de uma geração de pastores e ensinadores assembleianos”. (Isael de Araujo, Dicionário do Movimento Pentecostal, CPAD, 2015).

Assim como os missionários e pioneiros escandinavos pentecostais que aqui fundaram as Assembleias de Deus, na obra de Myer Pearlman, e mais especificamente no livro “Conhecendo as Doutrinas da Bíblia”, a fundamentação de seu pensamento e produção teológica a partir da herança ortodoxa é notória através das diversas citações e alusões feitas ali a teólogos e documentos de outras tradições cristãs. Observemos alguns exemplos, dentre muitos outros, que poderíamos aqui relacionar:

“Que ninguém creia que erro doutrinário seja um mal de pouca importância”, declarou D. C. Hodge, teólogo de renome. “Nenhum caminho para a perdição jamais se encheu de tanta gente como da falsa doutrina. O erro é uma capa da consciência, e uma venda para os olhos”. (p. 14)

“Assim escreveu David S. Clarke: ‘Não podemos crer que um pai se oculte para sempre de seu filho, sem nunca se comunicar com ele. Nem tampouco podemos imaginar um deus que retivesse o conhecimento do seu ser e de sua vontade, ocultando-o às suas criaturas que ele criara à sua própria imagem’ […]” (p. 19)

“Assim escreveu o Dr. William Evans: ‘A inspiração divina, como é definida por Paulo nesta passagem (2 Tm 3.16), é a forte inspiração espiritual de Deus sobre os homens, capacitando-os a expressarem a verdade […]’”. (p. 21)

“A Igreja Romana assevera que a origem divina das Escrituras depende, em última análise, do testemunho da igreja, a qual se considera o guia infalível em todas as questões de fé e prática. ‘Como se a verdade eterna e inviolável de Deus dependesse do juízo do homem!’ declarou João Calvino, o grande reformador.” (p. 26)

“Quem é, e que é Deus? A melhor definição é a que se encontra no Catecismo de Westminster: ‘Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.’” (p. 41)

“Como foi preservada a doutrina da Trindade de não deslocar para os extremos, nem para o lado da Unidade (sabelianismo) nem para o lado da Tri-unidade (triteísmo)? Foi pela formulação de dogmas, isto é, interpretações que definissem a doutrina e a’protegessem’ contra o erro. O seguinte exemplo de dogma acha-se no Credo de Atanásio formulado no quinto século […].’” (p. 52)

“Martinho Lutero disse: ‘O diabo é o contrafator de Deus.’ Em outras palavras, o inimigo sempre está contrafazendo as obras de Deus.” (p. 66)

“Embora as seguintes palavras do credo de Niceia (século quarto) tenham sido, como ainda são, recitadas por muitos de maneira formalista, não obstante, elas expressam fielmente sincera convicção da igreja primitiva […].” (p. 100)

“Martinho Lutero declarou que a doutrina cristã distingue-se de qualquer outra, e mui especialmente daquela que apenas parece ser cristã, pelo fato de ser ela a doutrina da Cruz. O ensino dos reformadores era este: quem compreende perfeitamente a Cruz, compreende a Cristo e a Bíblia!”. (p. 115)

“O Catecismo de Westminster, em resposta à sua própria pergunta, oferece a seguinte e adequada definição de conversão […].” (p. 147)

“O teólogo Dr. Strong conta o caso de um candidato à ordenação a quem fizeram a pergunta acima. Ele respondeu: ‘Regeneração e conversão são como a bala de canhão e o furo do cano do canhão – ambos atravessam o cano juntos’”. (p. 148)

“Graça não é tratar a pessoa como merece, nem trata-la melhor do que merece”, escreveu L. S. Chafer. “É trata-la graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor infinito expressando-se em bondade infinita”. (p. 151)

“João Calvino, que acentuara a perfeição do crente pela consumada obra de Cristo, e que não era menos zeloso da santidade que Wesley, dá o seguinte relato da perfeição cristã […].” (p. 169)

“A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por santo Agostinho, o grande teólogo do quarto século.” (p. 171)

“O ensino arminiano é como segue: A vontade de Deus ´q que todos os homens sejam salvos, porque Cristo morreu por todos (1 Tm 2.4-6; Hb 2.9; 2 Co 5.14; Tt 11,12). Com essa finalidade ele oferece graça a todos. Embora a salvação seja obra de Deus, absolutamente livre e independente de nossas boas obras e méritos, o homem tem certas condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de Deus, ou pode resistir-lhe e rejeitá-la. Seu direito de livre-arbítrio sempre permanece.” (p. 172)

“Quando Charles Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de Deus havia recebido excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do homem. Quando dirigia trabalhos em localidades onde a responsabilidade humana e as obras haviam sido fortemente defendidas, ele acentuava a graça de Deus. Quando deixamos os mistérios da predestinação e nos damos à obra prática de salvar almas, não temos dificuldadades com o assunto. João Wesley era arminiano e George Whitefield calvinista.” (p. 174)

“A. B. Bruce, erudito presbiteriano, escreve: A obra do Espírito era entendida como transcendente, milagrosa e carismática. O poder do Espírito Santo era um poder que vinha de fora, produzindo efeitos extraordinários que chamaram a atenção até do observador profano, como Simão o mago”. (p. 196)

“O Dr. A. B. MacDonald, ministro escocês, presbiteriano, escreve: A crença da igreja acerca do Espírito surgiu dum fato que experimentou. […] No princípio, sua manifestação mais extraordinária foi ‘falar em línguas’, o poder de expressão foi oral extática numa língua não inteligível […].” (p. 197)

“Como disse o pastor (batista) F. B. Myer, de saudosa memória: Tu podes ser um homem cheio do Espírito Santo quando estás no seio da tua família, mas antes de subires ao púlpito, deves ter a certeza de que está especialmente equipado com uma nova unção do Espírito Santo.” (p. 198)

“John Owen, teólogo do século dezessete, demonstra como, através das dispensações, há certas provas de ortodoxia relacionadas com cada uma das três Pessoas […].” (p. 209)

“Assim escreveu John S. Banks, erudito metodista: As Escrituras falam da felicidade intermediária dos mortos em Cristo (Lc 16.22; 23.43; 2 Co 6.6,8) […].” (p. 233)

Myer Pearlman, assim como outros grandes teólogos pentecostais, demonstrou a relação direta do pentecostalismo com a ortodoxia cristã presente na Patrística, na Reforma e nas diversas ramificações da mesma ao longo dos séculos.

As diversas citações presentes em “Conhecendo as Doutrinas da Bíblia” aqui apresentadas, de teólogos e documento anteriores e fora do contexto pentecostal clássico, além dos contemporâneos, é mais uma prova cabal que o pentecostalismo clássico é parte da ortodoxia cristã, convergindo nos pontos cardeais da fé, e divergindo em alguns tidos como periféricos, o que é bastante comum na teologia.

Que as presentes e as novas gerações de pentecostais sigam o exemplo dos nossos pioneiros e dos teólogos mais antigos, que não tiveram dificuldade alguma de produzir teologia à partir daquilo que ao longo da história foi produzido de forma ortodoxa, sem que com isso as doutrinas distintivas do pentecostalismo clássico sofressem algum dano.

Somo pentecostais clássicos, ensinamos, promovemos, defendemos e fazemos parte da ortodoxia cristã histórica e milenar!

Curtir

Comentar

Compartilhar

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

Seja o primeiro a comentar!