Muito se discute no meio pentecostal se temos uma teologia própria em termos doutrinários em toda a sua amplitude. A minha resposta, é que não. Temos em nossa teologia alguns aspectos doutrinários distintivos, mas em sua maior parte a Teologia Pentecostal (produzida ou da perspectiva pentecostal) está associada historicamente e doutrinariamente a outras tradições cristãs evangélicas.

Na obra “Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal” [Stanley Horton (E.), CPAD, 2008], lemos no primeiro capítulo, escrito por Gary B. McGee, que trata sobre o “Panorama Histórico”:

“Quando o Concílio Geral (título abreviado do Concílio Geral das Assembleias de Deus) veio a existir, em Hot Springs, Estado de Arkansas, em abril de 1914, já havia entre os participantes um consenso doutrinário, edificado nas verdades históricas da fé, juntamente com os temas da santidade wesleyana e de Keswick.” (p. 21) “

“Já na década de 1940, muitos evangélicos conservadores reconheceram que as concordâncias teológicas com os pentecostais sobrepujavam as diferenças, e começaram a acolher a comunhão e a cooperação com eles. Quando as Assembleias de Deus filiaram-se à Associação Nacional de Evangélicos (NAE), organização fundada em 1942, passaram a ocupar posição de destaque na vida eclesiástica da América do Norte. […] Às vezes, o relacionamento ficava tênue, por causa das suspeitas que ainda perduravam quanto à pneumatologia das Assembleias de Deus, e quanto à natureza geralmente arminiana de sua teologia. Nem por isso o impacto do evangelicalismo sobre a teologia pentecostal deixou de ser considerável” (p. 31).

“O Pentecostalismo surgiu do Movimento de Santidade do século XIX”. (p. 35)

No capítulo dois, intitulado “Fundamentos Teológicos”, escrito por James H. Rayley e Benny C. Aker Jr., tratando sobre sistemas teológicos protestantes, escreve o seguinte:

“O pentecostalismo. Em sua maior parte, a teologia pentecostal encaixa-se confortavelmente nos limites do sistema evangélico. Por outro lado, os pentecostais levam a sério a operação do Espírito Santo como comprovação da veracidade das doutrinas da fé, para outorgar poder à proclamação destas” (p. 55).

Perceba, que embora o sistema teológico pentecostal tenha um elemento distintivo (a operação do Espírito que outorga poder à proclamação), os autores afirmam que em sua “maior parte”, esse sistema teológico pentecostal se encaixa “confortavelmente” nos limites do sistema evangélico (ou evangelicalismo), e por sua vez: “As expressões teológicas do evangelicalismo provém, indistintamente, de arraiais calvinistas e arminianos” (p. 55).

Um exemplo prático disso, encontramos no mesmo capítulo:

“Segundo os arminianos, Deus sabe de antemão as pessoas que lhe aceitarão a oferta da graça, e são estas que Ele predestina a compartilhar de suas promessas. […] A maioria dos pentecostais tende ao sistema arminiano de teologia tendo em vista a necessidade do indivíduo em aceitar pessoalmente o Evangelho e o Espírito Santo” (p. 54).

Ao discorrer no capítulo três sobre a inerrância bíblica, John R. Higgins associa a posição teológica do pentecostalismo clássico a Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Gregório Nazianso, Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Orígenes, Ambrósio, Jerônimo, Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino e “um número incontável de outros gigantes da história da Igreja” (p. 108), que reconhecem que a Bíblia foi inspirada por Deus. Entre esses, Agostinho, Lutero e Calvino são reconhecidos como “notáveis” teólogos (p. 108, 116).

No capítulo quatro, ao falar sobre a existência de Deus, Russel E. Joyner nos remete para a Teologia Sistemática do teólogo calvinista L. Berkhof (p. 126 c/ 671).

No capítulo cinco, que trata sobre a Santíssima Trindade, Kerry D. McRoberts cita Lutero  em sua introdução (p. 157). Calvino é igualmente citado (p. 162,165). Ao discorrer sobre a formulação histórica da doutrina da Trindade, McRoberts cita os Pais da Igreja Irineu, Tertuliano, Orígenes, o Concílio de Nicéia e de Constantinopla (p. 165-169, 174-177).

No capítulo seis, que trata sobre “Seres Espirituais Criados”, Carolyn Denise Baker e Frank D. Macchia citam Inácio de Antioquia, Orígenes, Jerônimo e Dionísio, o Areopagita (p. 192,193). O teólogo católico italiano Tomás de Aquino é citado como aquele que fez “perguntas mui relevantes” sobre os anjos (p. 193). Karl Barth e Millard Erickson são também citados como aqueles que contribuíram de alguma forma sobre a doutrina dos anjos (p. 195).

No capítulo sete, que trata sobre “A Criação do Universo e da Humanidade), Timothy Munyon cita os teólogos Bruce K. Waltke (p. 224 c/ 692), Millard J. Erickson (p. 227 c/ 693), Thomas C. Oden (p. 229), Charles Hodge (p. 229 c/ 693), Louis Berkhof (p. 254 c/ 700), dentre outros.

No capítulo oito, que trata sobre a “Origem, Natureza e Consequências do Pecado, Bruce R. Marino cita Armínio (p. 269), Wesley (p. 270), Agostinho (p. 281 c/ 706) e Berkhoff (p. 295 c/ 709).

No capitulo nove, cujo tema é “O Senhor Jesus Cristo”, David R. Nichols cita o Concílio de Calcedônia (451 d.C.) como “definitivo na história da cristologia”, sendo esse o ponto culminante da luta contra uma longa fileira de heresias (p. 327-329). Cita ainda os teólogos Chafer (p. 263 c/ 701), Cullmann (p. 306,308,313,314,326 e outras c/ 711,712,713), Josefo (p. 314 c/ 713), Millard J. Erickson (p. 304 e outras c/ 701 e outras); J. Rodman Williamns (p. 332 c/ 715), dentre outros.

O capítulo dez trata sobre “A Obra Salvífica de Cristo”, e nele Daniel B. Pecota faz menção de Millard Erickson (p. 360 e outras), Thiessen (p. 361), Jakob Karpov (p. 361), e do wesleyanismo e arminianismo (p. 375,376,379).

O capítulo onze aborda o tema “O Espírito Santo”, onde Mark D. McLean cita o teólogo presbiteriano e carismático J. Rodman Williams (p. 386, 399 c/ 730,733).

No capítulo doze, que discorre sobre “O Espírito Santo e a Santificação”, Timothy P. Jenney cita A. H. Strong (p. 407), Charles Hodge (p. 407), Millard Erickson (p. 407), Louis Berkhof (p. 409), os reformadores (p. 410), os pietistas (p. 410), os metodistas (p. 410), John Wesley (p. 410), o Movimento de Santidade (p. 411), Charles Finney (p. 411), R. A. Torrey (p. 411) e D. L. Moody (p. 411).

O capítulo treze trata sobre “O Batismo no Espírito Santo”. Mesmo sendo uma doutrina distintiva do pentecostalismo clássico, já no início de sua exposição, John W. Wyckoff cita William Barclay e sua crítica sobre o modo de pensar vago e indefinido das formulações teológicas sobre o Espírito Santo (p. 431). Ao longo do seu texto faz referências positivas a J. Rodman Williams (p. 434), I. Howard Marshall (p. 444), esse em relação às questões hermenêuticas, F. F. Bruce (p. 448) e A. T. Robertson (p. 448).

No capítulo quatorze “Os Dons Espirituais” são tratados, onde David Lim cita Ernest Käseman, Markus Barth e Max M. B. Turne (p. 467 c/ 744,746,747), Wayne Grudem (p. 475 c/ 745), J. Rodman Williams (p. 475 c/ 745) e F. F. Bruce (p. 488,497 c/ 748).

O capítulo aborda o tema “A cura Divina”, e Vernon Purdy faz menção, dentre outros, das contribuições de George Elson Ladd, Anthony A. Hoekema e Francis Schaffer para um entendimento correto sobre “o homem inteiro” (p. 513), Leon Morris, D. A. Carson e Warfield, Craig Blomber e Millard Erickson, sobre cura na expiação (p. 518,519), Justino o Mártir, Irineu, Teodoto, Hipólito, Novaciano e Agostinho (p. 524,525).

No capítulo dezesseis Michael L. Dusing discorre sobre “A Igreja do Novo Testamento”. Em seu texto ele cita Karl L. Schmidt, Lothar Coenen e Millard J. Erickson (p. 536,537 c/ 757), Lutero, Zuínglio, Calvino, John Knox e Louis Berkhof (p. 541), Dietrich Bonhoffer (p. 544), F. F. Bruce (p. 569) e Thiessen (p. 570 c/ 761), dentre outros.

O capítulo dezessete trata sobre “A Missão da Igreja”, e nele Byron D. Klaus cita George E. Ladd (p. 582 c/ 763), Stanley A. Ellisen (p. 585 c/ 763), Jurgen Moltmann (p. 600 c/ 766), dentre outros.

Por fim, no capítulo dezoito, que trata sobre “As Últimas Coisas”, Stanley M. Horton cita, dentre outros, as contribuições teológicas sobre o tema de Louis Berkhof (p. 610 c/ 768, 615 c/ 770, 625 c/ 774), Millard Erickson (p. 621 c/ 771, p. 643 c/ 781) e George E. Ladd (p. 622 c/ 772).

Como fica bastante evidente na obra “Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal” [Stanley M. Horton (E.), CPAD, 11ª. ed. 2008], a teologia produzida por pentecostais, em sua maior parte, está sim associada à teologia ortodoxa evangélica elaborada ao longo da história da igreja (da Patrística aos dias atuais). Não há um único capítulo na obra, que não cite a contribuição teológica de nomes fora da tradição pentecostal clássica (e até anteriores a essa tradição) para os temas nela abordados.

Nós pentecostais clássicos, não estamos alienados dessa construção histórica, onde nela continuamos a dar uma contribuição singular para a teologia ortodoxa, e mais especificamente para a pneumatologia, com todas as implicações dessa para outras áreas da teologia, como por exemplo, a missiologia. Tal fato, como vimos, é afirmado claramente em nossas publicações oficiais.

A Teologia Pentecostal, elaborada por teólogos pentecostais e com os devidos pressupostos pneumatológicos distintivos, não é uma nova ou outra ortodoxia, mas sim, uma expressão singular e importante dessa ortodoxia que permeia toda a história da Igreja.

O pentecostalismo possui uma produção teológica própria (artigos, livros, etc.), mas o conteúdo dessa produção, em sua grande maioria, se fundamenta na herança ortodoxa da fé cristã.

Como bem afirmou o pastor e teólogo Esequias Soares:

“A teologia pentecostal se fundamenta nas Escrituras Sagradas; é histórica e mantém o pensamento teológico dos reformadores quanto às doutrinas cardeais da fé cristã”. [Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, Antonio Gilberto (E.), CPAD, 2008, p. 52]

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